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D. Américo Aguiar: “Não trago programas. Trago a mim próprio e o coração totalmente disponível”

Após a sua tomada de posse no passado dia 26 de outubro, D. Américo Aguiar presidiu este domingo à solene celebração da Eucaristia de entrada na Diocese de Setúbal.

“Estou aqui para fazer caminho convosco, para o que der e vier. Estamos juntos, todos. E não vamos construir nada contra ninguém. Vamos construir uns com os outros. Vamos fazer tudo o que for possível em todas as áreas”, disse D. Américo Aguiar, na homilia da primeira Eucaristia a que presidiu na Sé de Setúbal.

Não trago programas, não trago agenda, não trago decisões, não trago decretos, trago camiões de tralha, a mim próprio, o coração totalmente disponível para irmos até ao fim do mundo, se for preciso”, disse o prelado.

Para o novo bispo de Setúbal, quando chegar ao fim da sua presença em Setúbal, “daqui a 30 anos”, se “tiver salvo uma pessoa, está resolvido, uma que seja”.

Agradeceu a presença de todos, em particular aos sacerdotes a quem apelidou de “heróis”, na sequência da homenagem anteriormente feita na tomada de posse: “Pode haver um ou outro que de vez em quando não nos dignifique, nem nos representa, que peca e erra mas a esmagadora maioria dos sacerdotes são heróis, são benfeitores do país. E por isso queria homenageá-los mais uma vez neste domingo à tarde por tanto trabalho, tantos serviços, tanta entrega e ainda estarem aqui”.

Créditos: André Saraiva e Paulo Fidalgo

Lembrou as instituições da sociedade civil que visitou nas suas primeiras 48 horas na cidade de Setúbal, afirmando que é seu desejo “ir ao encontro das pessoas”, na tal “Igreja em Saída” que muitas vezes é mencionada pelo Papa Francisco. “Depois se quiserem retribuir, também estaremos de portas abertas para acolher todos, de braços abertos. Todos, todos, todos, sem qualquer tipo de hesitação”, acrescenta.

O Cardeal, Bispo de Setúbal, fez um renovado apelo à paz, mostrando à assembleia quatro cápsulas de balas que lhe foram oferecidas na sua visita à Ucrânia, em julho deste ano: “Isto matou alguém, se calhar mais do que uma pessoa”.

Não estamos contra ninguém, queremos paz porque quem sofre com a guerra são sempre os mesmos: as crianças, as famílias, os idosos, os pobres, os últimos. Não podemos permitir que isso aconteça. A nossa arma não é esta [apresenta a bala], a nossa arma é a oração. Pedir a Deus que dê o dom da paz para todos os irmãos e irmãs. Queremos rezar por todos. Para que Deus tenha possibilidade de semear nos seus corações o dom da Paz.”

Comentando a primeira leitura, do Livro do Êxodo, cujo autor pede misericórdia para com os migrantes, viúvas e órfãos, o Bispo de Setúbal denuncia que “não aprendemos nada”, “estamos sempre a repetir os mesmos erros” e que ainda nos mostramos indiferentes ao sofrimento do outro: “estamos a almoçar e vemos a guerra na televisão. E continuamos como se nada fosse”.

Créditos: André Saraiva, Arlindo Homem, e Paulo Fidalgo

Sobre o Evangelho, explica que o mesmo pede “para estarmos mais atentos aos últimos, aos frágeis, aos abandonados, aos excluídos”.

“Não precisamos de ir muito longe. Porque é no próximo que encontramos estas circunstâncias. E o próximo às vezes até sou eu. Às vezes quem precisa mais de atenção, de ajuda, sou eu. E às vezes é em nossa casa, na nossa rua, na nossa instituição. O próximo é muito relativo mas não precisamos de fazer muitas exegeses ou muitos estudos científicos: é sempre aquele que está mais perto de nós. Sejam nas periferias geográficas sejam nas periferias existenciais”.

E agradeceu a todos aqueles que na Diocese de Setúbal são próximos do outro: “Nestas primeiras 48 horas, posso já dar graças a Deus pelo testemunho da fé, pelos trabalhadores e trabalhadoras, pelos que vivem nesta terra, que já passaram tanto”. E lembra o primeiro Bispo de Setúbal: “o meu querido, número um, “special one”, D. Manuel Martins, tanto aqui se deu, se entregou”.

Meus queridos irmãos e irmãs, esta partilha do Evangelho “Amar a Deus acima de tudo e amar o próximo como a nós mesmos” não é fácil. Sobretudo quando o outro é aquele que nós não gostamos, é aquele vizinho insuportável. Mas o Senhor não pôs barreiras. O Papa hoje disse que a Igreja não deve pedir declarações de idoneidade. A Igreja está aberta a todos. Braços abertos, portas abertas, para todos se sentirem queridos, amados e acolhidos na Igreja de Cristo Vivo”.

Por fim, lembrou o Sínodo dos Bispos, que decorreu em Roma durante o mês de outubro e que contou com a participação de D. José Ornelas, em representação da Igreja de Portugal.

Hoje o Papa Francisco disse uma coisa muito interessante sobre o Sínodo: “Desafiou-nos a todos a crescer na adoração a Deus e no serviço ao próximo. É aqui que está o coração de tudo. A Igreja que somos chamados a sonhar: uma Igreja serva de todos, uma Igreja serva dos últimos, uma Igreja que acolhe, uma Igreja que serve, uma Igreja que ama, uma Igreja com as portas igrejas, que seja porto de misericórdia.”

“É por aqui que vamos, com a vossa ajuda, com a vossa partilha, conhecer, amar e servir, uns com os outros”, concluiu.

Créditos: André Saraiva e Paulo Fidalgo

Celebração muito participada e repleta de simbolismo

Na celebração estiveram centenas de fiéis, sacerdotes, diáconos e religiosos, para além de amigos, familiares e convidados oficiais, entre os quais autarcas, deputados e a Confraria do Senhor dos Passos de Leça do Balio, terra natal de D. Américo Aguiar.

Marcaram presença o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, os ministros Ana Catarina Mendes (Assuntos Parlamentares), João Costa (Educação) e João Luís Carneiro (Administração Interna), o Presidente da Câmara Municipal de Setúbal, André Martins e a Procuradora-Geral da República, Lucília Gago.

Concelebraram dezasseis bispos de todo o país. Destaque-se a presença do Cardeal D. Manuel Clemente (Patriarca Emérito de Lisboa), de D. José Ornelas (Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, Bispo de Leiria-Fátima e antecessor de D. Américo Aguiar na Diocese de Setúbal), de D. Rui Valério (Patriarca de Lisboa) e de D. Gilberto dos Reis (Bispo Emérito de Setúbal).

D. Américo Aguiar presidiu à sua primeira celebração na Sé de Setúbal levando na mão o báculo do primeiro Bispo de Setúbal, D. Manuel Martins, que foi uma oferta do Clero da Diocese de Setúbal para a sua ordenação episcopal, em outubro de 1975. Báculo é o bastão utilizado pelo bispo como referência a vara ou bastão que o pastor usa para conduzir e dirigir o seu rebanho. Significa apoio no caminhar e autoridade.

Créditos: João Marques

Durante a celebração utilizou, também, o cálice da Missa Nova de D. Manuel Martins (a primeira missa que celebrou quando foi ordenado padre) que foi oferecido pelo próprio a D. Américo Aguiar, por ocasião da sua ordenação presbiteral, para utilizar na sua Missa Nova. No pé do cálice existem duas inscrições mandadas fazer por D. Manuel: Padre Manuel Martins, 19 agosto 1951 / Padre Américo Aguiar, 15 julho 2001. Cálice é um vaso em forma de taça utilizado na celebração da Eucaristia para consagração do vinho e comunhão.

A casula utilizada por D. Américo Aguiar na celebração foi a mesma que utilizou na Eucaristia de envio da Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023, presidida pelo Papa Francisco e cujos trabalhos de preparação o Bispo de Setúbal coordenou no Comité Organizador Local (COL). Casula é o paramento com que o sacerdote que preside à Eucaristia se reveste por cima da alva e da estola, à maneira de capa ou manto amplo.

A celebração da Eucaristia iniciou-se com a procissão de entrada a partir da Casa do Corpo Santo em direção à Sé. Os cânticos foram entoados pelo Coro Diocesano de Setúbal

JM

Fotos: André Saraiva, Arlindo Homem e Paulo Fidalgo/Diocese de Setúbal

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Créditos: André Saraiva, Arlindo Homem e Paulo Fidalgo

D. Américo Aguiar: “Com cada um de vós quero descobrir quais são os sonhos de Deus para este amado povo de Setúbal”

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30 de Outubro de 2023