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A Palavra do Papa: a duplicidade do coração, as vítimas da arrogância, a grande casa e a fé “em movimento”

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Esta semana, o Papa recebeu 6000 crianças no Vaticano onde lhes falou da Igreja, da paz, da pobreza e das alterações climáticas. “Nós aprendemos que em cada situação e circunstância pessoal ou social da nossa vida, o Senhor está presente e chama-nos a viver o nosso tempo, a partilhar a vida dos outros, a misturar-nos nas alegrias e tristezas do mundo”, disse na Audiência Geral, sobre o testemunho de vida da “Serva de Deus” Madeleine Delbrêl.

Angelus: a duplicidade do coração põe em risco a autenticidade do nosso testemunho

O Papa Francisco rezou a oração mariana do Angelus, no passado domingo, com os fiéis e peregrinos reunidos na Praça São Pedro.

No Evangelho deste domingo, Jesus fala a “respeito dos escribas e fariseus, isto é, dos líderes religiosos do povo”. “Em relação a estas autoridades, Jesus usa palavras muito severas, «porque dizem e não fazem» e «fazem todas as suas ações só para serem vistos pelos outros»”.

Francisco alertou para estarmos atentos à “duplicidade do coração”, àqueles que “pregam uma coisa, mas, depois, vivem outra”: “nós também corremos esse perigo. Essa duplicidade do coração que põe em risco a autenticidade do nosso testemunho e também a nossa credibilidade como pessoas e como cristãos”.

“Lembremo-nos disto: não à duplicidade!” apelou o Papa. “Para um sacerdote, um agente pastoral, um político, um professor ou um pai, esta regra vale sempre: o que diz, o que prega aos outros, seja primeiro a vivê-lo. Para sermos mestres críveis, devemos primeiro ser testemunhas críveis”.

A seguir, Francisco deteve-se no segundo aspeto que “surge como consequência: a primazia do exterior sobre o interior”.

O truque é muito comum: maquilham o rosto, maquilham a vida, maquilham o coração. Essas pessoas “maquilhadas” não sabem como viver a verdade. E, muitas vezes, nós também temos essa tentação da duplicidade.”

“Acolhendo esta advertência de Jesus, perguntemo-nos”, disse Francisco: “Procuramos praticar o que pregamos ou vivemos na duplicidade? Dizemos uma coisa e fazemos outra? Estamos preocupados apenas em mostrar-nos impecáveis ​​por fora, maquilhados, ou cuidamos da nossa vida interior com a sinceridade do coração?”

“Dirijamo-nos à Virgem Santa: Ela que viveu com integridade e humildade de coração segundo a vontade de Deus, nos ajude a ser testemunhas críveis do Evangelho”, conclui o Papa.

Papa: somente o diálogo constrói a paz, não à violência e à guerra

O Papa recebeu na manhã de segunda-feira, a delegação da Conferência dos Rabinos Europeus. Francisco fez novamente um apelo pela situação na Terra Santa, “contrariada pela baixeza do ódio e pelo barulho mortal das armas”.

Ao receber a delegação, Francisco deu-lhes as boas-vindas e, afirmou: “acontece que não estou bem de saúde, e por isso prefiro não ler o discurso, mas entregá-lo a vocês e que vocês o façam”.

No discurso preparado para a ocasião, o Papa afirma que o seu primeiro pensamento e a sua primeira oração “são, acima de tudo, sobre o que aconteceu nas últimas semanas”.

Francisco sublinha aos Rabinos que neste tempo de destruição, somos chamados, por todos e antes de todos, a construir a fraternidade e a abrir caminhos de reconciliação, em nome do Todo-Poderoso que, como diz outro profeta, tem “planos de paz e não de desgraça” (Jr 29:11).

O ponto principal do texto de Francisco, entregue aos Rabinos Europeus, é sobre a importância do diálogo: “O ser humano, que tem uma natureza social e se encontra em contacto com os outros, é realizado na rede de relações sociais. Nesse sentido, ele não só é capaz de dialogar, como também é o próprio diálogo”, destaca o Santo Padre.

Para nos tornarmos construtores da paz, somos chamados a ser construtores do diálogo. Não apenas com as nossas próprias forças e habilidades, mas com a ajuda do Todo-Poderoso. Pois, “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os construtores” (Sl 127, 1).”

Francisco: eliminar a violência contra a mulher desde a raiz

“Uma erva daninha venenosa que aflige a nossa sociedade e que deve ser eliminada pela raiz”. É assim que o Papa Francisco define a violência contra as mulheres numa mensagem dirigida aos promotores da iniciativa “Uma grande onda contra a violência masculina sobre as mulheres”, campanha nacional italiana contra a violência doméstica.

O apelo é para “não ficar indiferente”, para “agir imediatamente, em todos os níveis, com determinação, urgência e coragem” para dar voz às “nossas irmãs sem voz”. “A maneira como tratamos uma mulher revela o nosso grau de humanidade”, escreve o Papa, pensando nas muitas mulheres “maltratadas, abusadas, escravizadas, vítimas da arrogância daqueles que pensam que podem dispor dos seus corpos e de suas vidas”.

Em muitos lugares e situações”, observa ele, “as mulheres são colocadas em segundo plano”, consideradas “inferiores”, como objetos. Quando “uma pessoa é reduzida a uma coisa, a sua dignidade não é mais vista”, diz a mensagem, “ela é considerada apenas uma propriedade que pode ser descartada em tudo, até mesmo a ponto de ser suprimida”.

Por isso, segundo o Papa, é urgente “uma ação educativa que, a partir da família, coloque no centro a pessoa com a sua dignidade” e favoreça “relações justas e equilibradas, baseadas no respeito e no reconhecimento mútuos”.

O Papa e as crianças do mundo: há pessoas más que fazem a guerra, nós trabalhamos pela paz

O Papa Francisco encontrou-se com mais de seis mil crianças, de 7 a 12 anos, provenientes de várias partes do mundo, na tarde de segunda-feira, na Sala Paulo VI, no Vaticano. O evento teve como tema “Aprendamos com os meninos e meninas”.

A propósito do tema do encontro, Francisco disse que é preciso aprender com as crianças. “Sempre fico feliz quando encontro, porque vocês ensinam-me algo novo a cada vez”, sublinhou.

Por exemplo, vocês recordam-me como a vida é bela na sua simplicidade e ensinam-me também como é bom estarmos juntos! Essas são duas grandes dádivas de Deus: estar juntos e com simplicidade.

A seguir, Francisco convidou as crianças a dizerem com ele ao mundo: “A vida é um dom!”. “Um belo dom e somos irmãos e irmãs, todos nós”. “Somos inimigos?”, perguntou o Papa e as crianças responderam: “Não!” “Somos irmãos?” “Sim”, responderam as crianças. “Muito bem! Vocês responderam bem”, disse ainda o Papa.

Vocês vieram aqui de todas as partes do mundo, como muitos irmãos que se reúnem numa grande casa. É a grande casa que Jesus nos deu: A Igreja é a casa da família, e o Senhor recebe-nos sempre com um abraço, com uma carícia”, sublinhou Francisco.

A seguir, Francisco convidou as crianças a não se esquecerem “das mudanças climáticas, da fome, da guerra e da pobreza”. “Vocês sabem que existe gente má que faz o mal, que faz guerra, que destrói? Vocês querem fazer o mal?” “Não”, responderam! “Vocês querem ajudar?” “Sim”, responderam as crianças. “Gosto disso”, disse o Papa.

“Queridas crianças, a vossa presença aqui é um sinal que vai direto ao coração de todos nós, adultos, e nós, as pessoas grandes, temos de olhar para a sua espontaneidade e ouvir a sua mensagem”, disse ainda Francisco, convidando as crianças a dizerem mais uma vez: “A vida é um dom maravilhoso. Deus ama-nos muito e é lindo estarmos juntos, comunicar, partilhar e doar. Façam sempre assim, Nossa Senhora ajudar-vos-á. Por favor: invoquem sempre Nossa Senhora e rezem por mim”.

Terra Santa: a terra de Jesus dilacerada por terríveis sofrimentos, imploramos a paz

O Papa Francisco recebeu, esta quinta-feira, no Vaticano, os membros da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém. O Pontífice recordou a Terra Santa, dilacerada pela violência e por um conflito que já causou milhares de mortes. As palavras do Papa soam quase como um choro: “Infelizmente, somos testemunhas de uma tragédia que se realiza nos lugares onde o Senhor viveu, onde nos ensinou através da sua humanidade a amar, a perdoar e a fazer o bem a todos. Em vez disso, vemo-los dilacerados por um sofrimento terrível que afeta sobretudo muitas pessoas inocentes, muitos inocentes mortos”.

Francisco expressou a sua tristeza pela situação na Terra Santa durante a audiência com os participantes da Consulta da Ordem Equestre do Santo Sepulcro de Jerusalém, que reuniu, em Roma, cavaleiros, damas, lugar-tenentes, delegados magistrados e este ano também bispos grão-priores.  

O discurso de Francisco centrou-se no tema da Consulta, a formação. A formação para os aspirantes a ingressar na Ordem; formação permanente para quem já participa da sua vida e missão; formação de quem ocupa cargos de responsabilidade do ponto de vista espiritual, “na consciência do elevado compromisso moral assumido perante o Altar”, e o relativo à organização das atividades e administração dos recursos, “para satisfazer, de maneira continuada e adequada, às necessidades da Terra Santa”.

Audiência Geral: o equilíbrio de um cristão está no impulso de caridade

Na catequese da Audiência Geral, desta quarta-feira, realizada na Praça São Pedro, o Papa Francisco falou sobre uma mulher francesa do século XX: a venerável serva de Deus Madeleine Delbrêl.

Madeleine nasceu em 1904 e faleceu em 1964. “Foi assistente social, escritora e mística, e viveu mais de trinta anos na periferia pobre e operária de Paris”, frisou o Papa na sua catequese.

Depois de uma adolescência vivida no agnosticismo, Madeleine conheceu o Senhor por volta dos vinte anos, impressionada pelo testemunho de alguns amigos. Ela então sai em busca de Deus, dando voz a uma sede profunda que sentia dentro de si, e chega a compreender que aquele “vazio que gritava dentro dela a sua angústia” era Deus que a procurava”, disse o Papa.

Segundo Francisco, Madeleine “tinha o coração sempre em saída, e deixa-se desafiar pelo grito dos pobres. Ela sentia que o Deus Vivo do Evangelho deveria arder dentro de nós até que levemos o seu nome àqueles que ainda não o tenham encontrado”.

Olhando para esta testemunha do Evangelho, também nós aprendemos que em cada situação e circunstância pessoal ou social da nossa vida, o Senhor está presente e chama-nos a viver o nosso tempo, a partilhar a vida dos outros, a misturar-nos nas alegrias e tristezas do mundo.

“Que Madeleine Delbrêl nos ensine a viver esta fé “em movimento”, por assim dizer, esta fé fecunda de que cada ato de fé se torne um ato de caridade no anúncio do Evangelho”, concluiu o Papa.

O Papa Francisco pediu, mais uma vez, para rezarmos pelos povos que sofrem com a guerra: “Não nos esqueçamos da martirizada Ucrânia e pensemos nos povos palestino e israelita. Que o Senhor nos conduza a uma paz justa. Há muito sofrimento.”

Arte: “a arte cria solidariedade”

O Santo Padre recebeu em audiência na manhã de quinta-feira, na Sala Clementina, no Vaticano, os membros da fundação Benfeitores das Artes dos Museus Vaticanos, um grupo de cerca de 300 pessoas, por ocasião dos seus 40 anos.

Ao dar-lhes as boas-vindas, Francisco agradeceu-lhes mais uma vez pela sua colaboração no importante trabalho de conservação e restauração do património artístico e cultural dos Museus Vaticanos. O vosso compromisso, disse o Papa, é um sinal concreto do seu apreço pelo potencial das artes, nas suas muitas formas, de abrir mentes e corações para a beleza da criação e para a misteriosa riqueza da nossa vida e vocação humanas.

Francisco frisou, ainda, que a arte, e a arte religiosa em particular, pode levar uma mensagem de misericórdia, compaixão e encorajamento não apenas aos crentes, mas também àqueles que duvidam, que se sentem atordoados, incertos ou talvez sozinhos.

Porque a arte sempre fala à alma. Ela tem o poder de promover o reconhecimento da nossa humanidade comum, de construir pontes entre culturas e povos e de criar o senso de solidariedade de que tanto precisamos no nosso mundo tristemente dividido e devastado pelas guerras.”

“A educação dos jovens leve fraternidade, paz e justiça ao mundo”

A mensagem de Francisco foi transmitida no encerramento do 4º Simpósio Global Uniservitate, que reuniu especialistas em educação de todos os continentes nos dias 8 e 9 de novembro em Manila.

Com o convite do Papa Francisco para construir um mundo melhor por meio de uma educação que promova a justiça e a paz, o Uniservitate é um programa para promover a aprendizagem e o serviço solidário em instituições católicas de ensino superior que adere ao Pacto Educacional Global do Sumo Pontífice.

Na mensagem aos participantes, na qual ele enfatizou a necessidade de “desenvolver nos jovens uma maior consciência da relação que deve existir entre as ‘linguagens’ da mente, do coração e das mãos”. Dessa forma”, disse o Papa, “os educadores poderão formar, e não simplesmente informar, aqueles que estão sob sua responsabilidade, para que todos possam aprender a pensar em harmonia com o que sentem e fazem; a sentir em harmonia com o que pensam e fazem; e a fazer em harmonia com o que sentem e pensam”.

Trata-se – observa Francisco – de uma abordagem à educação que “requer métodos criativos, interdisciplinares e transdisciplinares para ajudar os jovens a serem líderes e protagonistas na construção de um futuro melhor para toda a sociedade”.

Ao mesmo tempo, o Papa observa que “a importância da dimensão espiritual na educação não pode ser negligenciada”, o que deve levar os jovens a “servirem o bem comum como discípulos missionários, capazes de levar a verdade transformadora, a beleza e a alegria do Evangelho a todos os membros da família humana, promovendo assim o reino de Deus de solidariedade fraterna, justiça e paz”.

JM (com recursos jornalísticos da agência noticiosa Vatican News)

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10 de Novembro de 2023