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A Palavra do Papa: educar com liberdade, o cuidado com a vida interior, os semeadores de esperança e a grande alegria

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“Tornai-vos semeadores de esperança na vida dos vossos amigos e de quantos vos rodeiam” foi o apelo do Papa na mensagem, publicada esta semana, para a 38ª Jornada Mundial da Juventude. Na Audiência Geral apelou ao cuidado com a vida interior, que não pode ser “improvisada”.

Papa: educar as crianças com liberdade; não aceitar programas contrários aos próprios valores

Francisco recebeu em audiência no Vaticano, os participantes na Assembleia Geral da Conferência da Associação Europeia de Pais.

No seu discurso aos presentes, exortou-os a “cuidar dos seus filhos e, ao mesmo tempo, encorajá-los a amadurecer e tornar-se autónomos, sem impor expectativas”. A seguir, convidou-os “a transmitir uma formação positiva da afetividade e sexualidade, a fim de defender os seus filhos das ameaças, como o bullying, bebidas alcoólicas, pornografia, videojogos violentos, drogas.”

O Papa aprofundou a função dos pais na formação dos seus filhos: “Ser pais é uma das maiores alegrias da vida, porque desperta novas energias, entusiasmo e impulso”. Mas, acrescentou: “Educar um filho é uma verdadeira obra social: significa treiná-lo ao relacionamento, ao respeito dos outros, à cooperação, em vista de um objetivo comum; significa ainda treiná-lo à responsabilidade, ao senso de dever, ao valor do sacrifício pelo bem comum”.

Porém, Francisco ponderou: “Ao invés, se os filhos crescerem como ilhas serão incapazes de ter uma visão comum, pois estão acostumados a considerar os seus desejos como valores absolutos. Esses filhos, que fazem caprichos, criam uma sociedade desmantelada, empobrecida, que se torna cada vez mais frágil e desumana”.

Por este motivo, é preciso tutelar o direito dos pais de criar e educar os seus filhos com liberdade, sem ser forçados, de forma alguma, sobretudo, em âmbito escolar, tendo que aceitar programas educativos, que estejam em conflito com as suas crenças e valores. Este é um grande desafio, neste momento”.

Diante de tais dificuldades, que poderiam “desanimar”, afirmou o Papa, os pais devem ajudar-se mutuamente e reacender a sua paixão pela educação, porque “educar é humanizar; é tornar o homem plenamente humano”.

Angelus: menos tempo no telemóvel, mais cuidado com a vida interior

Antes de rezar o Angelus neste 32º Domingo do Tempo Comum, o Papa Francisco refletiu sobre a parábola das dez virgens.

O Papa sublinha que, no texto presente no livro de São Mateus, cinco virgens são sábias e cinco imprudentes, e convida os fiéis a refletirem sobre estas duas características: “A diferença entre sabedoria e imprudência não está, portanto, apenas na boa vontade, tampouco na pontualidade com que chegam ao encontro mas sim na preparação.”

Francisco destaca que as sábias juntamente com as suas lâmpadas, levaram também óleo, e as imprudentes, por outro lado, não o fizeram: “Aqui está a diferença: o óleo. E qual é a característica do óleo? O facto de não poder ser visto: está dentro das lâmpadas, não é visível, mas sem ele as lâmpadas não iluminam”.

Se olharmos para nós mesmos, perceberemos que nossa vida corre o mesmo risco: hoje estamos muito atentos às aparências, o importante é cuidar bem da nossa imagem e causar uma boa impressão diante dos outros. Mas Jesus diz que a sabedoria da vida está em outro aspeto: no cuidado com o que não podemos ver, mas que é mais importante, porque está dentro de nós. É o cuidado com a vida interior.”

Segundo o Papa, essa atenção implica em “saber como parar e ouvir o próprio coração, vigiar os pensamentos e os sentimentos”. Significa saber abrir espaço para o silêncio, ser capaz de ouvir”, e “saber abrir mão do tempo gasto em frente ao telemóvel para olhar a luz nos olhos dos outros, no próprio coração, no olhar de Deus sobre nós”.

“O Evangelho dá-nos o conselho certo para não negligenciarmos o óleo da vida interior” continua Francisco, “o óleo da alma, que é importante prepará-lo.” E recordando o exemplo das virgens que haviam se preparado bem, destaca:

Assim é para nós: a vida interior não pode ser improvisada, não é uma questão de um momento, de uma vez ou outra, de uma vez por todas; ela deve ser preparada dedicando um pouco de tempo todos os dias, com constância, como se faz para tudo o que é importante.”

Após a oração mariana, o Papa Francisco expressou sua a proximidade com as “estimadas populações” do Sudão que, há vários meses, estão “nas garras de uma guerra civil que não mostra sinais de diminuir”, bem como aos israelitas e palestinianos.

Recordou também o lançamento, há dois anos, da Plataforma de Ação Laudato Si’, promovida pelo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que oferece ferramentas úteis para o cuidado da nossa Casa Comum.

Pediu para rezar pela Conferência sobre Mudança Climática, Cop 28, que reunirá líderes mundiais no Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, de 30 de novembro a 12 de dezembro, para chegar a um acordo sobre políticas para limitar o aquecimento global. A conferência também contará com a presença do Papa, que fará um discurso a 2 de dezembro.

Aos jovens: usem as redes sociais para dividir uma palavra de esperança todos os dias

A XXXVIII Jornada Mundial da Juventude deste ano será celebrada nas Igrejas particulares a 26 de novembro, Solenidade de Cristo Rei, e Francisco divulgou a mensagem que aprofunda o tema «Alegres na esperança» (Rm 12, 12).

Junto com o tema já escolhido pelo Pontífice para 2024, «Aqueles que esperam no Senhor caminham sem se cansar» (cf. Is 40, 31), será preparado o caminho para o Jubileu dos Jovens de 2025, em Roma. Esse é o convite do Papa após “a real experiência da transfiguração”, da “explosão de luz e alegria” da JMJ de Lisboa de agosto, e antes da próxima etapa do encontro intercontinental de Seul, na Coreia, em 2027.

A «alegria na esperança» (Rm 12, 12) é uma exortação de São Paulo à comunidade de Roma que “deriva do encontro com Cristo”. Para os jovens, é um tempo propício do acolhimento de Deus, já que é alimentado pelas relações com amigos, experiências culturais, conhecimentos científicos e iniciativas fraternas, escreveu o Pontífice, ao alertar, porém, para os “dramas da humanidade, sobretudo do sofrimento dos inocentes” vividos atualmente:

A esperança cristã não é negação da dor nem da morte, mas celebração do amor de Cristo Ressuscitado que está sempre connosco, mesmo quando parece distante.”

Para alimentar essa esperança, o Papa Francisco indicou percursos práticos: o primeiro, a oração. Rezando, escreveu ele, “mantemos acesa a centelha da esperança”, mesmo quando tudo se apresenta cinzento.

“Exorto-vos a escolher um estilo de vida baseado na esperança. Dou um exemplo: nas redes sociais, parece mais fácil partilhar notícias más do que notícias de esperança. Assim deixo-vos uma proposta concreta: tentai partilhar cada dia uma palavra de esperança. Tornai-vos semeadores de esperança na vida dos vossos amigos e de quantos vos rodeiam”.

Audiência Geral: o Evangelho não é uma ideologia, é o anúncio da alegria

A terminar o ciclo de catequeses sobre o zelo apostólico, Francisco iniciou a Audiência Geral de quarta-feira lembrando a Exortação Apostólica Evangelii gaudium. Diante dos fiéis reunidos na Praça São Pedro, o Papa enfatizou que “a mensagem cristã, conforme ouvimos nas palavras do anjo aos pastores, é o anúncio de uma ‘grande alegria'”.

“E qual é o motivo dessa grande alegria? Uma boa notícia, uma surpresa, um belo acontecimento?”, questionou o Pontífice, para então responder: “É muito mais do que isso, é uma Pessoa: Jesus! Ele é o Deus feito homem que nos ama sempre, que deu a sua vida por nós e deseja conceder-nos a vida eterna! Ele é o nosso Evangelho, a fonte de uma alegria perene!”

Ou proclamamos Jesus com alegria, ou não o proclamamos, porque qualquer outra forma de anunciá-Lo não é capaz de trazer a verdadeira realidade de Jesus.”

Em seguida, o Papa faz um alerta aos fiéis: “um cristão que está descontente, triste, insatisfeito ou, pior ainda, ressentido e rancoroso não tem credibilidade”. Segundo Francisco, a evangelização funciona de forma gratuita, porque vem da plenitude, não da pressão.

O Papa destacou que o Evangelho ainda é esperado nos dias atuais, e a humanidade de todos os tempos necessita do seu anúncio, inclusive a civilização imersa na descrença planejada e na secularidade institucionalizada. Especialmente numa sociedade que negligencia os espaços do sentimento religioso, o Evangelho é aguardado.

No final da Audiência Geral, Francisco voltou a falar das “muitas guerras” vigentes não apenas na Europa e na Terra Santa, mas também no Sudão: “oremos pela paz: todos os dias, alguém dedique algum tempo para rezar pela paz. Nós queremos a paz!”.

Papa recorda Asia Bibi: testemunho cristão do nosso tempo para um caminho à santidade

A audiência com o Papa Francisco encerrou a conferência anual do Dicastério da Causa dos Santos na manhã de quinta-feira (dia 16 de novembro), na Sala Clementina, no Vaticano. Cerca de 100 participantes participaram do encontro, após três dias de aprofundamento sobre o tema “A dimensão comunitária da santidade” do ponto de vista bíblico e sociológico.

Francisco recordou como o argumento da vocação universal à santidade, na sua dimensão comunitária, foi tão importante ao Concílio Vaticano II, falado na Lumen Gentium (cf. cap. V) e também na Gaudete et exsultate. São todos irmãos que pertencem ao “santo povo fiel de Deus” (n. 6), estão próximos e fazem parte das nossas comunidades como santos “da porta ao lado” (n. 7) e “que viveram uma grande caridade nas pequenas coisas da vida quotidiana, mesmo com as suas limitações e falhas, seguindo Jesus até o fim”.

O Papa, então, aprofundou esse caminho à santidade através de três aspetos: a santidade que une, a santidade da família e a santidade do mártir. Para explicar o primeiro deles, Francisco destacou que a caridade é que une em Cristo e com os irmãos, promovendo esse percurso “não apenas um facto pessoal, mas também comunitário”.

Ao tratar da santidade familiar, o Papa trouxe a imagem da Sagrada Família de Nazaré, além de tantos outros exemplos que a Igreja nos oferece hoje, como os próprios pais de Santa Teresinha, os Santos Luís e Zelia Martin. Eles lembram que “a santificação é um caminho comunitário”:

Ao aprofundar o terceiro aspeto, sobre a santidade dos mártires, o Papa explicou que não houve período na história da Igreja “que não tenha tido os seus mártires até aos dias de hoje”. Muitas vezes se trata de “comunidades inteiras que viveram heroicamente o Evangelho ou ofereceram a vida de todos os seus membros a Deus”.

O Santo Padre finalizou o discurso trazendo o exemplo de Asia Bibi, a mulher cristã condenada no Paquistão por blasfémia. Após 9 anos de prisão e tortura, ela foi absolvida em outubro de 2018, após uma odisseia judicial e uma intensa mobilização social no mundo.

Francisco aos sacerdotes: não sejam funcionários do sagrado

O Papa recebeu os participantes do encontro anual de sacerdotes hispânicos dos Estados Unidos nesta manhã, 16 de novembro, no Vaticano. O Pontífice destacou a importância da abertura da Igreja como uma casa acolhedora para todos e incentivou os presentes a mergulharem no conhecimento de Cristo, e reiterou a importância de viver em um espírito constante de serviço para cuidar especialmente dos mais frágeis.

Francisco recomenda cautela contra a tentação do “refinamento eclesiástico” desprovido de abertura para o povo. O Pontífice convida a olhar para Cristo, mais do que para qualquer outro livro de referência. Em seguida, insiste na necessidade de dedicar tempo à meditação das Escrituras, especialmente recuperando o sentido da adoração.

Exorta também os sacerdotes a não se “acomodarem” num trabalho “clerical”, presos a horários fixos: “por favor, primeiro as pessoas, depois o horário, não se tornem funcionários do sagrado, que é o perigo dessa cultura, revejam a sua dedicação às pessoas, sua abertura de coração”.

JM (com recursos jornalísticos Vatican News)

Foto: Ricardo Perna

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16 de Novembro de 2023