comprehensive-camels

Leigas consagradas no meio do mundo

IMG_20151006_114631

O Ano dedicado à Vida Consagrada, decretado pelo Papa Francisco, iniciou-se no final de novembro de 2014 e terminará em fevereiro de 2016. Ao longo do último ano, o Notícias de Setúbal foi dando conta das diferentes realidades de vida consagrada presentes na Diocese. Chegamos, esta semana, ao fim, destacando as Auxiliares do Apostolado (AA). Fala-nos Margarida Rebelo, professora, e uma das Auxiliares do Apostolado da nossa Diocese.

«A Auxiliar do Apostolado é uma leiga que, escolhida por Deus, é chamada pelo seu Bispo para participar na sua missão apostólica, vivendo na sua dependência imediata – explica Margarida Rebelo – Por meio do chamamento, o Bispo constitui-a auxiliar do apostolado para ser instrumento da comunicação do amor salvador de Deus ao mundo». Esta é, por isso, uma vocação distinta das outras, na medida em que é uma vocação laical, diocesana, sem estrutura nacional ou internacional.

Nasceu no decurso da I Guerra Mundial, quando algumas jovens da diocese de Malines (Bruxelas) puseram ao Cardeal Mercier o problema de saber se seria conforme com o pensamento da Igreja ficarem, como simples leigas, nos vários meios a que pertenciam, a fim de aí, exercerem, na dependência imediata do seu Bispo, um apostolado que se lhes afigurava, ao mesmo tempo indispensável e só podendo ser realizado por leigos.

Refere Margarida que este pensamento «foi de encontro a uma das preocupações do Cardeal que, impressionado pela descristianização de certos sectores da sua diocese, desejava ardentemente ver ‘almas generosas compreenderem que para novas necessidades eram necessários novos meios de ação’. Deste modo, o Cardeal Mercier sem hesitar, encorajou, estas jovens a prosseguirem na sua experiência de vida apostólica em pleno meio do mundo».

Forma de vida laical e eclesial

Esta foi uma iniciativa do Cardeal Mercier que pareceu, na altura, a alguns, muito ousada, e foi no pontificado de Pio XI que obteve, do Santo Padre, uma carta de aprovação desta forma de vida apostólica. «Era uma forma de vida única na Igreja porque totalmente laical e totalmente eclesial», destaca Margarida Rebelo.

Rapidamente surgiram jovens, nas outras dioceses da Bélgica e em diversos países, que sentiram o mesmo apelo de Deus e obtiveram, dos seus respetivos Bispos, consentimento para fazerem experiência nas suas dioceses. Em Portugal, Lisboa foi a primeira diocese a ter Auxiliares do Apostolado. Atualmente existem nos cinco continentes e em Setúbal são seis.

«Quando a Diocese de Setúbal foi criada – conta Margarida – encontravam-se em missão, nesta Região Pastoral do Patriarcado de Lisboa, quatro auxiliares que, de acordo com os Bispos das duas dioceses, passaram a Auxiliares do Apostolado da Diocese de Setúbal. Uma era médica e três professoras. Todas estavam, também, profundamente inseridas nas suas paróquias, quer na catequese, no trabalho com jovens ou na ação socio caritativa, tendo já falecido uma. Mais tarde foram surgindo outras jovens com desejo de viverem esta vocação».

Comunicar Deus é missão dos leigos

 As seis Auxiliares do Apostolado da Diocese de Setúbal exercem profissões em diversos setores: no ensino, na área social e na gestão de empresas mas, igualmente, participando em vários serviços pastorais a nível paroquial ou diocesano.

Uma Auxiliar do Apostolado necessita de uma formação sólida. Por isso, diz Margarida Rebelo, compromete-se, ao longo de toda a sua vida, a procurar e a receber uma formação espiritual, formalmente apostólica, doutrinal e cultural de acordo com as suas possibilidades e em face das missões que lhe são confiadas. Esta formação é, normalmente, organizada na diocese e sob a responsabilidade do Bispo. Durante os primeiros anos da Diocese de Setúbal, a formação das auxiliares esteve confiada a formadoras da Diocese de Lisboa.

Hoje, considera Margarida, «temos consciência que a Igreja e a sua mensagem não têm qualquer influência na vida quotidiana de muitas pessoas, mesmo em meios tradicionalmente cristãos. No entanto, sabemos que o Senhor veio até nós e morreu para que todos possam receber a vida e recebê-la em abundância, para que a sua revelação possa atingir todos os homens e o amor de Deus seja comunicado, é missão, também, dos leigos empenharem-se nesta tarefa. Essa comunicação passa por tocar todas as coisas de uma maneira própria, a maneira daqueles cujo centro da sua vida é Jesus Cristo».

 «Entregue ao absoluto de Deus»

De uma Auxiliar do Apostolado espera-se, portanto, que viva profundamente inserida no meio do mundo, com todos os seus valores e contradições, sem nada que a distinga dos outros leigos, com inteira responsabilidade própria, mas também, radicalmente enraizada em Cristo e na Igreja.

«Entregue ao absoluto de Deus – sublinha – participa na construção do Seu Reino exercendo uma profissão, atenta à verdade, à justiça, à solidariedade lá onde os homens estão, escutando as orientações da Igreja, nomeadamente do Papa e do Bispo da diocese, procurando viver o Evangelho com fidelidade e radicalidade, colocando diante de Deus tudo o que é e tudo o que tem, e permanecendo na intimidade do Senhor na oração mesmo com as tarefas absorventes de um leigo». 

Anabela Sousa

Partilhe nas redes sociais!
19 de Outubro de 2015