Liturgia de Sexta-feira da IV Semana da Quaresma
Comentário do padre David Caldas, pároco “in solidum” de S. Paulo (Setúbal) e Ecónomo Diocesano.
Enquanto peregrinamos neste mundo assistimos e somos participantes no combate entre o bem e o mal, entre a virtude e o vício, entre a justiça e o pecado.
Somos chamados a fazer parte da milícia de Cristo, a fazer parte do pequeno grupo dos amigos de Jesus que a Seu lado procuram difundir as realidades do reino e a afastar das suas vidas os prazeres ardilosos do mundo. Somos convidados à justiça.
Contudo o Senhor não quer que tratemos mal nenhum dos nossos irmãos, mesmo aqueles que vivem afastados de Deus. Combater o mal é odiar todo o vício e pecado, mas amar, como Jesus, os pecadores.
O que se pretende de nós é que unidos a Cristo, alimentados pela Palavra e pelos sacramentos, sejamos capazes, através das boas obras que praticamos, de dar um verdadeiro testemunho de Cristo que leva os que estão mais afastados a inquirirem-se acerca da sua conduta e, reconhecendo as suas más ações, levá-los à conversão. Queremos que descubram no amor de Cristo, no Seu Sacratíssimo Coração, o lugar onde se podem abrigar e encontrar a cura para todos os seus males, queremos que redescubram em Cristo a vida nova a que são, como nós, chamados. Não queremos que desistam, que se percam, mas que se reencontrem e voltem à vida. Deus não faz aceção de pessoas.
Faz-nos bem relembrar que só o amor cura. É por amor que o Senhor Jesus vem ao nosso encontro, é por amor que o Senhor Jesus nos corrige, é por amor que o Senhor Jesus não desiste de nós. Temos, como Jesus, que amar; não nos podemos tornar justiceiros por conta própria.
Nesta luta entre o bem e o mal à qual estamos sujeitos nem sempre estamos do lado certo. É importante não nos enchermos de orgulho. O orgulho afasta de Deus. É importante termos cuidado com os julgamentos que fazemos acerca dos outros quando, tantas vezes, temos tão pouco cuidado em examinar as nossas ações, em formar a nossa consciência para que rapidamente nos faça distinguir entre o caminho a seguir e o caminho a evitar, quando tantas vezes fazemos as escolhas erradas.
Quando aderimos inteiramente a Cristo e procuramos fazer sempre e em tudo a Sua vontade, quando procuramos estar sempre na Sua presença, é certo que seremos alvo de reações menos agradáveis. Assim o foi com aqueles que Deus enviou, assim foi com o nosso mestre e Senhor. E Ele não nos escondeu nada, deu-se a conhecer inteiramente, disse-nos com clareza que o discípulo não é maior que o mestre.
Que saibamos alegrar-nos na perseguição, que saibamos ser motivo de esperança, que procuremos sair de nós e ir ao encontro daqueles que precisam de receber o Senhor nas suas vidas, que queiramos ser o canal pelo qual Cristo fala hoje à humanidade que, quer o saiba ou não, está sedenta do Seu amor.
Padre David Caldas
