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I Domingo do Advento: Comentário à Liturgia – “Volta”

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Volta!

Inicia-se mais um Advento, tempo de preparação para o Natal, tempo de vigilância e expetativa, temas que as leituras deste primeiro Domingo sublinham. Gostaria, no entanto, de destacar um texto que talvez nos passe ao lado nas liturgias dominicais: o salmo, proclamado de forma responsorial.

Hoje lemos parte do Salmo 79 (ou 80, de acordo com a numeração hebraica), que, nas palavras do cardeal Gianfranco Ravasi, é uma espécie de “autobiografia de Israel, que sente interrompido o seu contacto com o Deus salvador”. Numa súplica coletiva, o salmista pergunta-se até quando durará o distanciamento de Deus, ou quando terá fim a tribulação; porque o Senhor não parece estar próximo, nem parece disposto a confortar e salvar o seu povo. Esta preocupação é, bem o sabemos, penosamente atual. Mas os versículos que hoje escutamos dão-nos também outras coordenadas. A frase que repetimos enquanto refrão é, na realidade, também repetida no salmo (vv. 4, 8 e 20): “Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar; mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos”. Sublinhe-se este “voltar” (shuv, em hebraico), termo com profundas ressonâncias bíblicas no que diz respeito à conversão. Aqui, a palavra aponta em duas direções. Em primeiro lugar, pode ser aqui um apelo a que Deus restaure o seu povo, que o faça voltar a ser o que já foi, que lhe dê paz e segurança. Mas (por subtilezas intraduzíveis da língua hebraica) também pode exprimir o desejo de que o Senhor volte para o seu povo, e esse regresso de Deus é ilustrado simbolicamente pelo resplandecer do seu rosto, como uma poderosa luz que despedaça as trevas do coração do homem. Desta forma, as duas imagens de Deus presentes no salmo tomam nova força. Ele é um pastor que vem em auxílio do seu rebanho, que estende a mão para que a ovelha mais fraca não desfaleça; Ele é também um vinhateiro que cuida da vinha que plantou, e, como hábil viticultor, faz com que dê fruto abundante. Estas imagens, já o podemos intuir, produzem ecos abundantes no Novo Testamento:  Cristo bom pastor (Jo 10), a vinha da história da salvação (Mc 12,1-12), a videira que é Cristo e os ramos que são os seus discípulos (Jo 15) …

Esta mesma dupla dinâmica de um regresso a Deus e um regresso de Deus é uma proposta importante que o Advento nos faz: à Sua vinda até nós, deve corresponder um regresso de cada um de nós, que tantas vezes nos perdemos no caminho que conduz a Cristo. Neste sentido, o salmo complementa o habitual convite de início de Advento à vigilância com uma simples e profunda atitude: a entrega nas mãos do Senhor, um total abandono à sua palavra e à sua ação!

Padre Daniel Nascimento

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28 de Novembro de 2020