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Missa Crismal/D. José Ornelas: “Ao serviço da Igreja, Mãe Acolhedora”

A manhã de Quinta-feira Santa é habitualmente marcada pela celebração da Missa Crismal, num momento de encontro do clero diocesano junto do seu bispo. D. José Ornelas lembrou a finalidade dos três óleos abençoados na celebração “que abrangem toda a realidade da vida da Igreja” e que constituem “a fonte de toda a ação santificadora”.

Ao contrário do que aconteceu em 2020, foi possível a celebração da Missa Crismal na Semana Santa, apesar das restrições impostas pela situação pandémica que persiste.

“A pandemia que assola o mundo limita a possibilidade de acolher outras pessoas que gostariam de estar presentes nesta celebração. Esperemos e rezemos para que o Senhor nos conceda a graça de vencer esta crise, de modo que possamos gradualmente e em segurança, celebrar com toda a comunidade a nossa fé”, mencionou D. José Ornelas no início da celebração.

 

O Bispo diocesano lembrou que nesta celebração são “abençoados e consagrados os óleos santos que servirão para os sacramentos da Igreja até à próxima Páscoa” e que, na mesma ocasião, o clero da Diocese é chamado a “renovar as suas promessas de fidelidade e de serviço a Deus e ao seu povo e que são os dispensadores habituais desta graça de Deus na nossa Igreja Diocesana”.

A Eucaristia foi concelebrada pela grande maioria do presbitério, contando com a presença de sacerdotes de outras dioceses e de D. César Augusto Ferreira da Silva, bispo emérito de Portalegre-Castelo Branco, a residir temporariamente em Azeitão.

 

No início da celebração, D. José Ornelas recordou ainda os membros do presbitério falecidos desde a última Missa Crismal, o Padre Manuel Soares e o Padre Adalberto Saraiva, associando o Diácono António Margalhau e o Irmão António Pinto, da comunidade salesiana de Setúbal. Lembrou ainda os familiares de outros padres e todos os irmãos e irmãs que pereceram vítimas do vírus da pandemia e de outras doenças.

Na sua homilia, o prelado invocou os óleos santos, chamando a atenção para a sua necessidade na situação atual, seja na consolação e solidariedade para com os que têm “sequelas pessoais e sociais” da pandemia, na urgência do anúncio do Evangelho aos adultos e a relevância da comunhão, unidade e amor fraterno “óleo que deve perfumar a Igreja”.

[Galeria fotográfica no final do artigo]

 

Homilia de D. José Ornelas: Ao serviço da Igreja, Mãe Acolhedora

Irmãos e irmãs,

A celebração desta manhã, no contexto do Tríduo Pascal que começa esta noite com a memória da Ceia do Senhor, faz-nos associar e viver os mistérios fundamentais da presença de Jesus na sua Igreja e, ao mesmo tempo, assumir o nosso compromisso de discípulos e apóstolos. Os três óleos que abençoaremos em seguida caraterizam aqueles que hão de distribuí-los aos irmãos, e igualmente queles que os receberão.

A bênção dos óleos

Jesus mesmo se apresenta como aquele que foi ungido com o óleo, veículo do Espírito que o qualificou como enviado do Pai, para curar as dores e sofrimentos da humanidade e transformar aqueles que recebem o seu dom em pessoas novas, filhos e filhas de Deus: “O Senhor me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres. Enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos e a proclamar um ano favorável da parte do Senhor”.

O óleo que abençoamos, é o mesmo azeite das oliveiras, mas é preparado e consagrado com três finalidades diferentes, que abrangem toda a realidade da vida da Igreja: o Óleo dos Catecúmenos, o Óleo dos Enfermos e o Óleo Santo do Crisma. Assim se significa que a fonte de toda a ação santificadora é o único Espírito do Pai, que se revelou no sangue e na água que brotaram do peito trespassado do Senhor na cruz. Assim se significa que é da vida, morte e ressurreição de Jesus, que vem, para toda a Igreja a vida que nos permite superar as nossas dificuldades e até a morte.

O óleo dos enfermos

A função primeira da unção do Espírito Santo, que Jesus refere a si próprio é cuidar das dores e enfermidades da humanidade Não se trata simplesmente das diversas doenças que nos podem atingir, mal de todas as dores, erros e faltas que nos desviam do caminho da vida e nos afastam de Deus.  Toda a vida e missão de Jesus se resume a isto: veio ao encontro da nossa fragilidade, carregou as nossas dores e angústias.

Neste tempo de pandemia, dou graças a Deus pelo cuidado que os ministros deste sacramento dos doentes e os muitos ministros da misericórdia mostraram para com os que foram vítimas da pandemia e das suas consequências. E também, nos fica uma mágoa muito grande de não termos sempre podido estar à cabeceira de quem sofre, de ter acompanhado os lutos dos que choram os entes queridos. Sabemos que era necessário impedir que muitos mais fossem atingidos, mas certamente que esta pandemia nos colocou diante de desafios novos, para os quais temos de encontrar caminhos de maior humanização e de maior fé.

Que esta celebração nos ajude a levar sempre o óleo da ajuda, da caridade que assiste e não esquece ninguém. Nos próximos tempos, teremos uma grande tarefa neste campo. Há muitas sequelas pessoais e sociais a precisar do óleo da consolação, da solidariedade e da vida, mas que saiba também acompanhar para a grande viagem para os braços do Pai aqueles que Ele chama a completar e chegar à plenitude da vida.

O óleo dos catecúmenos

O segundo óleo, o óleo dos catecúmenos, destina-se àqueles que se preparam para o batismo, mostrando-lhes a porta acolhedora da Igreja, onde se tornam filhos e filhas de Deus. Como o barro que Jesus colocou nos olhos do cedo, como o seu gesto de tocar os ouvidos dos surdos, este óleo abre o coração do catecúmeno para que possa ouvir a Palavra de Deus, como semente que dá fruto e luz que ilumina o seu caminho.

Não é apenas um meio para o ritual dos catecúmenos. Ele exprime o ser e a missão da Igreja que é anunciar o Evangelho a quem não o conhece. Esta é a missão da Igreja; de contrário, não é a Igreja do Senhor Jesus. E esse anúncio é dever, antes de mais do Bispo e dos Presbíteros e Diáconos, mas igualmente de todos e cada um/a dos batizados.

A Igreja deve cheirar sempre a este óleo dos catecúmenos. Temos comunidades que, graças a Deus, lhe dão um bom uso e, todos os anos, se alegram com o acolhimento de novos filhos e filhas. Noutras, infelizmente, o vaso do óleo dos catecúmenos só é trazido para os batismos dos bebés (e isso é bom!), mas falta o anúncio do Evangelho aos adultos. E este é um desafio para cada uma das nossas comunidades paroquiais e movimentos e para toda a Igreja de Setúbal: fazer brilhar, no rosto da Igreja o óleo dos catecúmenos, para que brilhemos diante de Deus como Igreja missionária.

O Óleo Santo do Crisma, que gera filhos/as de Deus e forma a Igreja

É o óleo por excelência do Espírito: do batismo através do qual os catecúmenos se tornam filhos/as de Deus; do crisma que capacita para viver e testemunhar a fé e anunciar o Evangelho; da unção dos ministros da Igreja para o serviço do Espírito de santificação, a fim de que sejam os que se associam à missão de Cristo, continuando a sua presença e “proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista“.

Por isso, os ministros do óleo do Crisma são aqueles que especialmente tornam presente o Senhor da reconciliação e o pão que reúne e dá vida à comunidade. É o óleo ainda que se utiliza para consagrar o altar onde se reparte o pão da vida e o próprio edifício onde se reúne a comunidade que partilha o pão.

É verdadeiramente o óleo que nos faz filhos/as queridos de Deus, que nos faz clamar “Abba”, “Pai querido” e que nos capacita para a obra de transformação de nós próprios e do mundo.

É este óleo de união e do amor fraterno, que deve perfumar a casa da Igreja e particularmente o seu Presbitério com o Bispo, e deve ser objeto de especial atenção e esforço, para que a santidade da Igreja transpareça no amor fraterno que nela resplandece. É este compromisso de comunhão e unidade que hoje renovamos. Que esta renovação se multiplique em atitude de humildade, de decisão e de obediência ao Espírito, que torna possível a caridade na sua Igreja.

Hoje, dou graças a Deus por cada um de vós, queridos padres, pelo chamamento que Deus vos dirigiu e ao qual respondestes, pelo esforço no serviço dos irmãos, pelas dores aliviadas e pela coragem e esperança infundida em nome de Deus, particularmente nestes tempos difíceis da pandemia. Coragem, caros padres! O Senhor não nos faltará com a sua graça. Unidos a Ele e entre nós, seremos sinais e portadores do seu amor que cura, unifica, fortifica e salva.

A vós todos, irmãos e irmãs, peço que louveis sempre o Senhor, pelo bispo e por estes irmãos que Ele chamou para o vosso serviço e que peçais sempre por nós, para que sejamos santos na unidade do Espírito, a fim de sermos para vós e para toda a Igreja testemunhas e instrumentos de comunhão, de serviço evangélico e de anúncio credível do Evangelho.

É com estes sentimentos que vos convido, caros padres, a renovar as promessas sacerdotais, ao serviço dos irmão e irmãs aos quais o Senhor nos enviou.

+ D. José Ornelas

Bispo de Setúbal

 

 

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05 de Abril de 2021