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A Palavra do Papa: a fraternidade no “País dos Cedros”, a consciente preocupação com o mundo e a novidade de Deus

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Numa semana em que o Santo Padre foi submetido a uma cirurgia ao cólon, Francisco rezou pela paz no Líbano, parabenizou o filósofo Edgar Morin pelo seu centenário e anunciou a sua próxima viagem apostólica à Hungria e à Eslováquia.

Líbano: “basta de usar o país para interesses e lucros alheios”

O Vaticano foi palco de uma jornada de reflexão e oração pela paz no Líbano na última quinta-feira, 1 de julho. Participaram os líderes das comunidades cristãs presentes no País dos Cedros, mas com a esperança – antecipada pelo próprio Papa Francisco – de que seja um dia “seguido de iniciativas concretas sob o signo do diálogo, do empenho educativo e da solidariedade”.

Na mensagem do Pontífice, proferida na Basílica de São Pedro após a oração ecuménica que concluiu o evento, o Santo Padre exortou para que todos, libaneses na pátria e no mundo inteiro, permaneçam unidos para promover “projetos de paz e não de desgraça”. Essa frase foi repetida quatro vezes pelo Papa na mensagem, “em resposta ao grito da nossa oração” e fazendo referência às palavras de Deus nas Escrituras (Jr 29,11).

Através de invocações e cantos de diferentes tradições presentes naquele país, com textos em árabe, siríaco, arménio e caldeu, o Papa interveio, recordando a necessidade de pedir perdão pelas “nossas sombras”, como “os erros cometidos quando não testemunhamos o Evangelho com toda a coerência”.

O Santo Padre salientou que esta é uma terra com a vocação da fraternidade, onde diferentes religiões e confissões se encontram e convivem. Daí o seu apelo para que “os detentores do poder” estejam a serviço do bem comum e não dos próprios interesses e que encontrem “soluções urgentes e perduráveis para a crise económica, social e política atual”.

Basta com os lucros de poucos à custa da pele de muitos! (…) Basta com fazer prevalecer verdades de parte sobre as esperanças da gente! Basta com usar o Líbano e o Médio Oriente para interesses e lucros alheios! É preciso dar aos libaneses a possibilidade de serem protagonistas de um futuro melhor, na sua terra e sem interferências indevidas.”

Encorajou ao “renascimento do país”, como “lâmpadas que ardem nesta hora escura”. E feito luz que brota das palavras do poeta libanês, Khalil Gibran, citadas pelo próprio Pontífice: “mais além da cortina negra da noite, há uma aurora que nos espera”.

“Juntos pelo Líbano” foi o nome da iniciativa de Oração pela Paz no Líbano, convocado pelo Papa Francisco. O dia começou na Casa de Santa Marta, seguindo-se para a Basílica de São Pedro, onde os responsáveis religiosos rezaram diante do túmulo do Apóstolo. A tarde foi ocupada com várias sessões de encontro à porta fechada e a tarde terminou novamente na Basílica Vaticana com a oração ecuménica.

Encontro Mundial das Famílias: “todos poderão participar”

Numa videomensagem, divulgada na sexta-feira (2 de julho), o Papa Francisco explicou a modalidade extraordinária do X Encontro Mundial das Famílias que se realizará em Roma, de 22 a 26 de junho de 2022. O tema desse grande evento é “O amor em família: vocação e caminho de santidade”.

O encontro terá uma modalidade multicêntrica e disseminada, favorecendo a participação das comunidades diocesanas do mundo inteiro. Roma será a sede principal, com alguns delegados da Pastoral familiar que participarão do Festival das Famílias, do Congresso Pastoral e da Santa Missa, que serão transmitidos ao mundo inteiro.

Francisco sublinha que nos dias do Encontro Mundial das Famílias, “cada diocese poderá ser o centro de um Encontro local para as suas famílias e comunidades. Desta forma, todos poderão participar, até mesmo aqueles que não puderem vir a Roma.”

Segundo Francisco, “trata-se de uma ocasião valiosa para nos dedicarmos com entusiasmo à pastoral familiar: esposos, famílias e pastores, todos juntos”.

“Portanto, coragem, queridos pastores e queridas famílias, ajudem-se mutuamente para organizar encontros nas dioceses e paróquias de todos os continentes”, conclui o Papa, desejando um “bom caminho rumo ao próximo Encontro Mundial das Famílias”.

Edgar Morin: “uma vida ao serviço de um mundo melhor”

Francisco fez-se presente na mesa redonda que a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) dedicou na passada sexta-feira por ocasião do centenário, a 8 de julho, do filósofo, sociólogo, intelectual, escritor, cientista e estudioso francês Edgar Morin, pseudónimo de Edgar Nahoum, homem preocupado com o destino da humanidade, cujo sentido de responsabilidade e impulsos vitais sempre exaltou.

A mensagem do Papa, assinada pelo secretário de Estado, cardeal Pietro Parolin, foi lida pelo observador permanente da Santa Sé junto ao organismo das Nações Unidas dedicado à cultura, D. Francesco Follo.

O filósofo francês, cujo entusiasmo o Papa bem lembra do encontro que teve, no Vaticano, a 27 de junho de 2019, destaca-se nas palavras de Francisco não apenas como uma “testemunha privilegiada de profundas e rápidas mudanças sociais”, mas também como um analista atento que, com discernimento, neste caminho dos tempos, suscitou “esperanças” e alertou para os possíveis riscos para a humanidade.

Em particular, o Pontífice destaca o papel de Morin ao convidar, por exemplo com o conceito de “ciência com consciência”, os progressos moral e intelectual a prosseguirem juntos no avanço da ciência e da tecnologia para evitar catástrofes. A consciência do frágil destino da humanidade também incentivou o estudioso francês a promover a necessidade de uma “política de civilização”, tendo o ser humano no centro e não o dinheiro. Junto com tantos outros intelectuais eminentes, Morin trabalhou pela “cooperação entre os povos”, pela “construção de uma sociedade mais justa e humana”, pela “renovação da democracia”, sublinhando o quanto são “necessários vínculos de solidariedade e convivência” que favoreçam a “abertura e acolhimento”, ressalta o Papa.

Angelus: “sem abertura à novidade e às surpresas de Deus a fé extingue-se”

O Papa conduziu o Angelus do último domingo, XIV do Tempo Comum, dirigindo-se aos fiéis e peregrinos presentes na Praça de São Pedro. Comentando o Evangelho do dia (Mc 6,1-6), Francisco ressaltou que o mesmo fala-nos da incredulidade dos conterrâneos de Jesus. Depois de pregar em outras aldeias da Galileia, Jesus voltou a Nazaré, onde havia crescido com Maria e José; e, num sábado, começou a ensinar na sinagoga.

Muitos, ouvindo-o, perguntam-se: “De onde lhe vem toda essa sabedoria? Não é o filho do carpinteiro e de Maria, isto é, dos nossos vizinhos que conhecemos bem?”, acrescentou o Santo Padre, apresentando esta página do Evangelho que traz a visita de Jesus a Nazaré.

Sobre os conterrâneos de Jesus, o Santo Padre explica que este conhecem-no mas no o reconhecem: há uma diferença entre saber coisas sobre uma pessoa, formar uma ideia, e conhecê-la verdadeiramente: “É um risco que todos nós corremos: achamos que sabemos tanto sobre uma pessoa, rotulamo-la e a restringimos aos nossos preconceitos.”

Os conterrâneos de Jesus detêm-se na exterioridade e rejeitam a novidade de Jesus. Quando deixamos a comodidade do hábito e a ditadura dos preconceitos prevalecer, observou o Santo Padre, é difícil abrir-nos à novidade e nos deixarmos surpreender. Muitas vezes acabamos por procurar a confirmação das nossas ideias “para nunca ter que fazer o esforço de mudar”.

Mas sem abertura à novidade e às surpresas de Deus, sem admiração, a fé torna-se uma ladainha cansada que lentamente se extingue”, enfatizou.

Afinal, por que os conterrâneos de Jesus não O reconhecem e acreditam n’Ele? Qual é o motivo? – perguntou o Papa. “Podemos dizer, em poucas palavras, que não aceitam o escândalo da Encarnação”, respondeu Francisco.

“É escandaloso que a imensidão de Deus se revele na pequenez de nossa carne, que o Filho de Deus seja o filho do carpinteiro, que a divindade esteja escondida na humanidade, que Deus habite no rosto, nas palavras, nos gestos de um simples homem.”

Na realidade, é mais cómodo um deus abstrato e distante, que não se intromete nas situações e que aceita uma fé distante da vida, dos problemas, da sociedade. Ou mesmo gostamos de acreditar em um deus “com efeitos especiais”, que só faz coisas excecionais e sempre dá grandes emoções, disse ainda Francisco.

Ao invés, Deus encarnou-se: humilde, terno, escondido, faz-se próximo de nós habitando a normalidade da nossa vida quotidiana. E assim, como os conterrâneos de Jesus, corremos o risco que, quando passa, não o reconhecemos, aliás, escandalizamo-nos por Ele.”

No final, o Papa Francisco fez um apelo ao diálogo e à paz no Estado de e-Swatini (antiga Suazilândia), no sul de África, de onde “estão a chegar notícias de tensões e violências”. Há várias semanas, duros protestos têm sido feitos contra o rei Mswati III, o último monarca absoluto do continente africano que governa o país há 35 anos.

Hungria e Eslováquia: “Rezem por esta viagem”

Por ocasião do Angelus deste domingo, Francisco anunciou a dupla viagem de 12 a 15 de setembro de 2021 à Hungria e à Eslováquia. Francisco estará no dia 12 em Budapeste para a missa de encerramento do 52º Congresso Eucarístico Internacional e depois até ao dia 15 em Bratislava, Présov, Koesice e Šaštin.

Agradeço de coração àqueles que estão a preparar esta viagem e rezo por eles. Rezemos todos por esta viagem e pelas pessoas que estão a trabalhar para organizá-la.”

Trata-se da segunda viagem apostólica de 2021, após a importante viagem ao Iraque.

Depois de cirurgia, o Santo Padre está a passar bem

Na noite de domingo, 4 de julho, o Santo Padre foi submetido a uma cirurgia programada para curar uma “estenose diverticular do cólon” no Hospital A. Gemelli, à qual o Pontífice “reagiu bem”, segundo Matteo Bruni, diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé.

O Pontífice deixou a Casa Santa Marta no início da tarde desse dia e já se encontra em boa condição de saúde e consciente. “A cirurgia para estenose diverticular realizada na noite de 4 de julho envolveu uma hemicolectomia esquerda e durou cerca de 3 horas”, disse Bruni.

Na sua conta no Twitter, o Papa Francisco agradece a todos aqueles que expressaram proximidade durante o seu internamento. Saudações de líderes religiosos, chefes de Estado e de Governo, religiosos e fiéis de todo o mundo.

“Fiquei tocado pelas tantas mensagens e pelo afeto recebido nestes dias. Agradeço a todos pela proximidade e oração”, é a mensagem de agradecimento do Papa Francisco.

Quanto à permanência no Hospital Gemelli, “prevê-se um internamento de cerca de 7 dias, salvo complicações”.

JM (com recursos do portal Vatican News)

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07 de Julho de 2021