Celebra-se no próximo domingo, 14 de novembro, o Dia Mundial dos Pobres instituído há cinco anos pelo Papa Francisco.
Já existe o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza e dos Sem Abrigo que ocorre, por determinação das Nações Unidas, a 17 de Outubro. O Dia Mundial dos Pobres, tem um sentido diferente, o de levar as comunidades cristãs, e não só, a olharem para os pobres com a mística da Proximidade, Compaixão e Solidariedade ativa, tal como ilustra a parábola do Bom Samaritano.
Na sua mensagem, o Papa Francisco justifica a escolha do tema “Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7) “como um convite a não perder jamais de vista a oportunidade que se nos oferece para fazer o bem. A sua presença no meio de nós é constante, mas não deve induzir àquela habituação que se torna indiferença, mas empenhar numa partilha de vida (…) com irmãos e irmãs cujo sofrimento se partilha, para abrandar o seu mal e a marginalização, a fim de lhes ser devolvida a dignidade perdida e garantida a necessária inclusão social”.
Esta manhã, enquanto ia escrevendo este texto, Deus enviou-me uma mulher com contas de água, luz, rendas de casa por pagar, sem dinheiro para comprar uma botija de gaz e a dizer-me:
“Só como uma vez por dia pois quem não trabalha não precisa de comer mais…”. E foi, sem eu a interromper, desfiando o seu rosário de sofrimento: “ Já não choro porque já não tenho lágrimas. Quando eu trabalhava nada me faltava…” Viúva, doente, com reforma de miséria e com prestações obrigatórias a pagar ao banco por dívidas do marido defunto… como me ecoaram com dor as expressões de alguém que há dias afirmava: “os pobres são pobres porque querem. Os miseráveis são miseráveis porque querem. Eles não querem sair da sua pobreza e da sua miséria…!”.
Meu Deus, como é possível este olhar!?
Escreve o Papa que “Jesus não só está do lado dos pobres, mas também partilha com eles a mesma sorte, Ele é o primeiro pobre. Não O encontramos quando e onde queremos, mas reconhecemo-Lo na vida dos pobres, na sua tribulação e indigência, nas condições por vezes desumanas em que são obrigados a viver. (…) Enfim os crentes, quando querem ver Jesus em pessoa e tocá-Lo com a mão, sabem aonde dirigir-se: os pobres são sacramento de Cristo, representam a sua pessoa e apontam para Ele (…).”
E continua:
Parece ganhar terreno a conceção segundo a qual os pobres não só são responsáveis pela sua condição, mas constituem também um peso intolerável para um sistema económico que coloca no centro o interesse dalgumas categorias privilegiadas (…)”
São inúmeros os pobres, as pobrezas diversificadas, em contraste com as riquezas e ganhos escandalosos duns poucos, espiral de contrastes e contradições em crescimento. Mas terá que ser sempre assim?
“A pobreza não é fruto duma fatalidade… “ escreve Francisco que prossegue:
Impõe-se, pois, uma abordagem diferente da pobreza. É um desafio que os governos e as instituições mundiais precisam de perfilhar, com um modelo social clarividente, capaz de enfrentar as novas formas de pobreza…. Se os pobres são colocados à margem, como se fossem os culpados da sua condição, então o próprio conceito de democracia é posto em crise e fracassa toda e qualquer política social.”
E exorta: “Não esperemos que os pobres batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles às suas casas aos hospitais e casas de assistência, à estrada e aos cantos escuros onde, por vezes, se escondem, aos centros de refúgio e de acolhimento…”
No Dia Mundial dos Pobres se encontrarmos um pobre não lhe demos apenas uma esmola, abracemo-lo.
Padre Constantino Alves, fc