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A Palavra do Papa: o discernimento, os novos cardeais, o amor à Igreja e o desejo de humildade e misericórdia

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Esta semana, o Papa Francisco iniciou um novo ciclo de catequeses dedicadas ao discernimento, presidiu ao oitavo consistório do seu pontificado para a criação de 20 novos cardeais e visitou Áquila, 13 anos depois do terramoto que destruiu a cidade, pedindo uma Igreja marcada pela humildade e misericórdia.

Papa iniciou ciclo de catequeses dedicadas ao discernimento, «indispensável para viver»

O Papa Francisco começou, na passada quarta-feira, 31 de agosto, um novo ciclo de catequese, dedicado ao tema do discernimento, lembrando a sua importância e que “as escolhas são parte essencial da vida”.

“Discernir é um ato importante que se refere a todos, as escolhas constituem uma parte essencial da vida. Escolhe-se comida, roupa, um curso, um emprego, uma relação. Em tudo isso se realiza um projeto de vida, e também se concretiza a nossa relação com Deus”, disse Francisco, na audiência geral desta quarta-feira.

Francisco indicou que no Evangelho, “Jesus fala de discernimento com imagens tiradas da vida quotidiana”, quando descreve os pescadores que “selecionam os bons peixes”, o comerciante que “sabe identificar, entre muitas pérolas, a de maior valor”, ou o lavrador que “encontra algo que acaba por ser um tesouro”.

“À luz desses exemplos, o discernimento é apresentado como um exercício de inteligência, de perícia e também de vontade, para reconhecer o momento favorável. Estas são as condições para uma boa escolha”, acrescentou.

O Papa realçou, saindo do discurso, que “as decisões são tomadas por todas as pessoas” e não há quem a tome por outra pessoa, que pode “pedir um conselho, mas a decisão é da pessoa”, para decidir bem “é necessário saber discernir”.

“O discernimento é cansativo, mas indispensável para viver. Requer que eu me conheça, que eu saiba o que é bom para mim aqui e agora. Antes de tudo, exige uma relação filial com Deus, Deus é Pai e não nos deixa sozinhos, está sempre disposto a aconselhar-nos, a encorajar-nos, a acolher-nos. Mas ele nunca impõe sua vontade, porque quer ser amado e não temido.”

Na 29ª audiência de 2022, com cerca de seis mil pessoas, Francisco assinalou que o Evangelho também sugere que “os afetos” são outro aspeto importante do discernimento, e explica que “quem encontrou o tesouro não tem dificuldade de vender tudo, tão grande é a sua alegria”, e a palavra usada pelo evangelista Mateus “indica uma alegria totalmente especial, que nenhuma realidade humana pode dar”, e são “todas relativas ao encontro com Deus”.

Segundo o Papa, “o juízo final Deus fará um discernimento, o grande discernimento”, em relação a cada um, por isso, “é muito importante saber discernir”, e afirmou que discernimento “é a reflexão da mente, do coração”, que se deve fazer antes de tomar uma decisão.

“As grandes escolhas podem surgir de circunstâncias à primeira vista secundárias, mas que se revelam decisivas. Numa decisão boa, a vontade de Deus se encontra com nossa vontade. Encontra-se o caminho atual com o eterno. Tomar uma decisão justa, depois de um caminho de discernimento, é fazer esse encontro: O tempo com o eterno”, desenvolveu, assinalando que “Deus quer filhos livres, nunca impõe a sua vontade”.

Francisco lembrou que “conhecimento, experiência, afetos, vontade” são elementos “indispensáveis ​​do discernimento”, que também envolve “esforço”, e neste novo ciclo de catequese vão refletir sobre outros “igualmente importantes”.

No final da audiência, na saudação aos peregrinos de língua portuguesa, o Papa pediu que “não” deixem “de pedir a ajuda do Espírito Santo – guia segura para um bom discernimento” – em cada escolha que tenham de fazer.

«Um cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual»

A 27 de agosto, o Papa Francisco presidiu, no Vaticano, ao oitavo consistório do seu pontificado, desafiando os novos cardeais, oriundos dos quatros continentes, a viver sempre com amor pela Igreja.

“Um cardeal ama a Igreja, sempre com o mesmo fogo espiritual, tanto nas grandes questões como nas pequenas; tanto no encontro com os grandes deste mundo, como com os pequenos, que são grandes diante de Deus”, afirmou na homilia da cerimónia a que presidiu, na Basílica de São Pedro.

O Papa recordou o exemplo do cardeal Agostino Casaroli “famoso pelo seu olhar aberto” para apoiar, com diálogo sábio, os novos horizontes da Europa depois da ‘Guerra Fria’: “E Deus não permita que a miopia humana volte a fechar aqueles horizontes que ele abriu”.

Francisco salientou que o cardeal italiano, secretário de Estado do Vaticano de 1979 até 1990, se dedicou à grande diplomacia, mas também ao trabalho pastoral mais pequeno, e visitava “regularmente jovens numa prisão juvenil, em Roma.

“E quantos exemplos desses poderiam ser dados”, acrescentou, lembrando o cardeal vietnamita Francisco Xavier Van Thuan que “foi chamado a pastorear o Povo de Deus noutro cenário crucial do século XX”, esteve na prisão durante 13 anos onde também cuidava “da alma do carcereiro que vigiava a porta da cela”, “animado pelo fogo do amor de Cristo”.

Na primeira celebração do género desde novembro de 2020, a reflexão de Francisco centrou-se numa frase de Jesus no Evangelho de São Lucas (12, 49-50), que “atinge como uma flecha”, lida no início da celebração: “Vim lançar fogo sobre a terra, e como gostaria que já estivesse aceso!” (Lc 12, 49).

Dos 20 cardeais, 16 têm menos de 80anos, e são eleitores num futuro Conclave; o grupo incluiu o arcebispo de Díli (Timor-Leste), D. Virgílio do Carmo da Silva, de 53 anos, dois arcebispos brasileiros e o arcebispo de Goa e Damão, na Índia.

Francisco leu a fórmula de criação e proclamou em latim os nomes dos cardeais, para os unir com “um vínculo mais estreito” à sua missão; seguiu-se a profissão de fé e o juramento dos novos cardeais, de fidelidade e obediência ao Papa e seus sucessores.

Cada um dos novos cardeais ajoelhou-se para receber o barrete cardinalício, de acordo com a ordem de criação.

O Papa entregou um anel aos cardeais para que se “reforce o amor pela Igreja”, seguindo-se a atribuição a cada cardeal uma igreja de Roma – que simboliza a participação na solicitude pastoral do Papa na cidade -, bem como a bula de criação cardinalícia.

Este foi o oitavo consistório do atual pontificado, após os realizados a 22 de fevereiro de 2014, 14 de fevereiro de 2015, 19 de novembro de 2016, 28 de junho de 2017, 28 de junho de 2018, 5 de outubro de 2019 e 28 de novembro de 2020.

Papa Francisco e novos cardeais visitaram Bento XVI

O Papa Francisco e os novos cardeais visitaram Bento XVI, no Mosteiro Mater Ecclesiae, após a celebração do consistório público que decorreu na Basílica de São Pedro, no Vaticano.

Uma visita ao Papa Emérito “para uma breve saudação”, explica a Sala de Imprensa da Santa Sé, numa nota enviada à Agência ECCLESIA.

Os novos cardeais da Igreja Católica receberam a bênção de Bento XVI, “juntamente com a do Papa”, rezaram “juntos a Salve Regina”, e dirigiram-se o Palácio Apostólico ou para a Sala Paulo VI para as visitas de cortesia com os fiéis de Roma e dos seus países.

A visita ao Papa emérito realiza-se desde o Consistório de 2016; Bento XVI participou nas celebrações, em 2014 e 2015, na Basílica de São Pedro.

Papa apontou a importância da «admiração de estar na Igreja, de ser Igreja», ao Colégio Cardinalício, no encerramento da reunião que reuniu 197 cardeais e patriarcas

O Papa Francisco alertou os novos cardeais, e restante Colégio Cardinalício, para a “falsa segurança” de sentirem que a Igreja “grande, sólida” de hoje “é diferente, não é como no início”, na Missa que presidiu na Basílica de São Pedro.

“A Palavra de Deus hoje desperta em nós admiração de estar na Igreja, de ser Igreja! E é isso que torna atraente a comunidade dos crentes, primeiro para si e depois para todos: O duplo mistério de ser abençoado em Cristo e ir com Cristo ao mundo”, disse o Papa, na homilia da Missa que encerrou dois dias de debate sobre a reforma na Cúria Romana.

Segundo Francisco, essa admiração “não diminui” nos cardeais com o passar dos anos, “nem diminui com o crescimento das responsabilidades na Igreja”: “Graças a Deus não. Fortalece-se, torna-se mais profunda”.

Esta Eucaristia encerrou a reunião, convocada pelo Papa Francisco, para debater a constituição ‘Praedicate Evangelium’, publicada a 19 de março deste ano, e que congregou 197 cardeais e patriarcas, a 29 e 30 de agosto.

A constituição apostólica ‘Praedicate evangelium’ (Pregai o Evangelho) propõe uma Cúria mais atenta à vida da Igreja Católica no mundo e à sociedade, rejeitando uma atenção exclusiva à gestão interna dos assuntos do Vaticano.

Um comunicado enviado à Agência ECCLESIA, no final do encontro de cardeais, a Santa Sé informa que os trabalho em grupos linguísticos e os debates na sala nova do sínodo permitiram “discutir livremente muitos aspetos” sobre o documento e a vida da Igreja, e a última sessão, na tarde desta terça-feira, foi dedicada ao Jubileu da Esperança, em 2025.

O cardeal português D. José Tolentino Mendonça disse que a reunião refletiu sobre a “abertura da Cúria” a “fiéis leigos, homens e mulheres batizados”, “não consagrados” que ajudem no governo da Igreja.

Segundo o bibliotecário e arquivista da Santa Sé, a Constituição apostólica «Praedicate Evangelium» é uma “tentativa de traduzir, também em chave pastoral” e “compreensível” para o tempo atual, o serviço que a Cúria romana desenvolve, não só em Roma, como nas Igrejas locais.

Papa visitou Áquila, 13 anos depois do terramoto que destruiu a cidade e pediu Igreja marcada pela humildade e misericórdia

O Papa visitou a cidade de Áquila, região italiana dos Abruzos, centro da Itália, evocando as vítimas do terramoto que atingiu a localidade, há 13 anos, que provocou mais de 300 mortes.

“Neste momento de encontro convosco, em particular com os familiares das vítimas do terramoto, desejo manifestar a minha proximidade às vossas famílias e a toda a vossa comunidade, que enfrentou com grande dignidade as consequências daquele trágico acontecimento”, disse Francisco, esta manhã, na primeira intervenção desta viagem.

O sismo de Áquila, a 6 de abril de 2009, provocou ainda centenas de feridas e elevados danos materiais. O Papa elogiou o “testemunho de fé” desta comunidade, citando, em particular, a carta que recebeu de um pai, que perdeu os seus dois filhos adolescentes no terramoto.

“Apesar da dor e da perda, que pertencem à nossa fé de peregrinos, fixastes o vosso olhar em Cristo, crucificado e ressuscitado, que com o seu amor redimiu da falta de sentido a dor do absurdo e da morte”, referiu.

Durante a visita, o Papa elogiou a figura de Celestino V (1209-1296), que renunciou ao pontificado, apresentando-o como um exemplo de humildade para toda a Igreja.

“A força dos humildes é o Senhor, não as estratégias, os meios humanos, a lógica deste mundo. Não, o Senhor. Nesse sentido, Celestino V foi uma testemunha corajosa do Evangelho, porque nenhuma lógica de poder o pôde aprisionar ou gerir”, declarou, na homilia da Missa a que presidiu na praça da Basílica de Santa Maria in Collemaggio, na cidade de Áquila, região central da Itália.

“Nele admiramos uma Igreja livre da lógica mundana e testemunha, plenamente, daquele nome de Deus que é a Misericórdia”, acrescentou, na celebração conclusiva da visita que fez este domingo, um dia depois do consistório para a criação de 20 cardeais, no Vaticano.

Francisco evocou o exemplo de Pietro Angeleri da Morrone (1209-1296), monge que fundou em Abruzzo (Monte Morrone) a Ordem dos Celestinos e passou à história por renunciar voluntariamente ao ministério como bispo de Roma, após 5 meses de pontificado, para voltar à vida eremítica.

Decidido a retomar sua vida de oração na solidão de um mosteiro, Celestino V acabaria por renunciar ao pontificado a 13 de dezembro de 1294, menos de quatro meses após a sua eleição; foi preso na torre de um castelo, por ordem do seu sucessor, Bonifácio VIII, e ali permaneceu isolado até o fim da vida, em 1296.

“O homem não é o lugar que ocupa, mas a liberdade de que é capaz e que manifesta plenamente quando ocupa o último lugar, ou quando lhe é reservado um lugar na cruz”, disse o Papa.

A homilia desafiou os participantes a assumir “a força dos humildes”. “A humildade não consiste na desvalorização de si mesmo, mas naquele realismo saudável que nos faz reconhecer as nossas potencialidades e também as nossas misérias”, precisou Francisco.

“Recordamos erradamente a figura de Celestino V como ‘aquele que fez a grande recusa’, segundo a expressão de Dante na ‘Divina Comédia’; mas Celestino V não era o homem do ‘não’, era o homem do ‘sim’”.

Celestino V também é conhecido pela promulgação da ‘Perdonanza (Perdão)’: após a sua eleição pontifícia, a 29 de agosto de 1294, chegou montado num burro à cidade de Aquila, levado por Carlos II de Anjou, rei de Nápoles. Celestino decidiu que todos os que visitassem a Basílica de Collemaggio, nesta cidade, entre os dias 28 e 29 de agosto, receberiam a remissão dos pecados e a absolvição da pena.

Francisco apresentou uma reflexão sobre o perdão, sublinhando a importância de reconhecer a própria “miséria” para ir ao encontro de Deus. “O perdão é passar da morte para a vida, da experiência de angústia e culpa para a de liberdade e alegria”, indicou.

No final da celebração eucarística, o Papa recitou o ângelus, seguida do rito de abertura da Porta Santa que deu início ao 728.º Perdão Celestino, parando junto do túmulo de Celestino V. Francisco, que se deslocou em cadeira de rodas, em vários momentos, é o primeiro Papa a abrir a Porta Santa, nesta data.

Em abril de 2009, Bento XVI parou junto desta basílica, depositando na Porta Santa o pálio – insígnia pessoal e de autoridade que lhe fora imposto no dia do início de pontificado -, sobre o relicário com os restos mortais de Celestino V.

Papa afirmou beleza de «uma família fortalecida pelo dom da fé», em encontro com família portuguesa

O Papa Francisco recebeu em audiência, no passado dia 26 de agosto, a família de Pedro Maria Guimarães de Mello e afirmou ser “lindo ver uma família unida, uma família fortalecida pelo dom da fé”.

“Vocês são uma família numerosa e unida. Muito obrigado pelo testemunho deste amor à Igreja e pela peregrinação ao túmulo de São Pedro”, disse Francisco no encontro com 140 pessoas da família de Pedro Maria Guimarães de Mello, na Sala Clementina, informa o portal ‘Vatican News’.

O Papa assinalou que foi a “fé em Jesus” que os levou e “fez chegar juntos”, e revelou que a partir da família portuguesa pensava em muitas outras como eles, e partilhou o início do Salmo 132: “Oh, como é bom, como é agradável para irmãos unidos viverem juntos. É como um óleo suave derramado sobre a fronte, para correr em seguida até a orla do seu manto”.

“O óleo é uma linda imagem de união, é uma imagem de felicidade de estar em comunhão. Mas o óleo também é uma imagem da fé que fortalece os nossos vínculos e transmite o Espírito Santo, e torna possível a harmonia nas famílias – isso é importante -, a harmonia também na Igreja e no mundo”, desenvolveu.

“Encorajo a não deixar que termine o óleo da fé nas vossas lâmpadas”, afirmou Francisco, pedindo que não se esqueçam da oração, porque “ajuda a manter viva a fé”.

O Papa convidou os 140 membros da família de Pedro Maria Guimarães de Mello a “progredir” no caminho de fé, “confiando na bondade do Senhor e na proteção da Santíssima Virgem”, que se venera com “tanto amor em Fátima”.

O portal ‘Vatican News’ contextualiza que, formada por 12 irmãos, esta família de empresários portugueses, com mais de 100 anos de história, tem “fortes sentimentos de unidade e responsabilidade social”, uma ligação “muito forte” com a Universidade Católica Portuguesa, desde a sua fundação, e emprega mais de mil funcionários.

AS com Agência Ecclesia

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02 de Setembro de 2022