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A Palavra do Papa: a expetativa pelo Senhor, o verdadeiro rosto do Pai, a barreira da fraternidade e o vício da tristeza

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Nos últimos dias, o Papa presidiu à Missa da Festa da Apresentação do Senhor, homenagem os galardoados com o Prémio Zayed para a Fraternidade Humana 2024 e ligou à Irmã Paësie, do Haiti, que cuida de 2500 crianças órfãs. “Atenção à tristeza, é como um verme que corrói o coração” disse, na Audiência Geral de quarta-feira, sobre o vício da tristeza.

Consagrados: perseveremos na expectativa do Senhor, acolhamos as suas surpresas

Na sexta-feira, 2 de fevereiro, Festa da Apresentação do Senhor e Dia Mundial da Vida Consagrada, Francisco presidiu à missa na Basílica Vaticana, na presença de religiosos e religiosas.

Simeão, “homem justo e piedoso, que esperava a consolação de Israel” e Ana, que “nunca saía do templo”, reconheceram no Menino, que Maria trazia nos braços, a salvação tão esperada. São eles, Simão e Ana, os protagonistas da passagem do Evangelho da Festa da Apresentação do Senhor. Tomando o exemplo dos dois anciãos, no centro da reflexão do Papa Francisco, está uma atitude um tanto incomum no nosso tempo: a espera.

“Faz-nos bem olhar para esses dois idosos que são pacientes na espera, vigilantes no espírito e perseverantes na oração”, afirmou Francisco no início da sua homilia: Simeão e Ana são dois idosos, mas mantiveram os seus corações jovens, apesar das dificuldades e deceções “eles não aposentaram a esperança” e mantiveram viva a expetativa pela vinda do Senhor.

Irmãs, irmãos, cultivemos na oração a expectativa pelo Senhor”, disse Francisco na homilia, “e aprendamos a boa ‘passividade do Espírito’: assim poderemos abrir-nos à novidade de Deus”.

Ai de nós se cairmos no “sono do espírito”, diz o Papa, e “arquivarmos a esperança”. A capacidade de esperar, continua o Papa, é frequentemente prejudicada por dois obstáculos: o primeiro é “a negligência da vida interior”, que “acontece quando o cansaço prevalece sobre o encanto, quando o hábito ocupa o lugar do entusiasmo, quando perdemos a perseverança no caminho espiritual, quando as experiências negativas, os conflitos ou a demora no aparecimento dos frutos nos transformam em pessoas amargas e amarguradas”.

O segundo obstáculo é “a adaptação ao estilo do mundo que acaba a tomar o lugar do Evangelho”. O Papa fala da demanda por “tudo e agora” que caracteriza o nosso mundo, o ativismo que nos domina, o consumismo e o entretenimento procurados a todo o custo e o silêncio banido dos nossos dias.

Deixemo-nos interpelar, deixemo-nos mover pelo Espírito, como Simeão e Ana. Se vivermos, como eles, a expetativa salvaguardando a vida interior e permanecendo coerentes com o estilo do Evangelho, abraçaremos Jesus, luz e esperança da vida, finaliza Francisco.

Papa: “Trabalhemos juntos pela paz na Terra Santa”

«O meu coração está próximo de vocês, da Terra Santa, de todos os povos que a habitam, israelitas e palestinianos, e rezo para que prevaleça sobre todos o desejo de paz. Quero que saibam que estão perto do meu coração e do coração da Igreja”.

Com estas palavras o Papa Francisco dirige-se “aos irmãos e irmãs judeus de Israel”, numa carta enviada a Karma Ben Johanan, teóloga do diálogo judaico-cristão, que esteve entre as promotoras nas últimas semanas de um apelo ao Pontífice, assinado por cerca de 400 entre rabinos e estudiosos, pela consolidação da amizade judaico-cristã após a tragédia de 7 de outubro.

O Santo Padre, na sua carta – com data de 2 de fevereiro – recordou como a Terra Santa, infelizmente, não tenha sido excluída daquela angústia que assola o mundo e que constitui uma verdadeira “guerra mundial em pedaços”, e que suscita no mundo” apreensão e dor”.

Observa na missiva como a guerra em curso tenha «produzido na opinião pública mundial atitudes de divisão, que por vezes levam a formas de anti-semitismo e anti-judaísmo», acrescentando:

«Não posso deixar de reiterar que (…) a relação que nos liga a vocês é particular e singular, sem nunca obscurecer, naturalmente, a relação que a Igreja tem com os outros, e o empenho também em relação a eles. O caminho que a Igreja iniciou convosco, o antigo povo da Aliança, rejeita todas as formas de anti-judaísmo e anti-semitismo, condenando inequivocamente as manifestações de ódio contra os judeus e o judaísmo, como um pecado contra Deus”.

Francisco escreve: «Sinto o desejo de assegurar-vos a minha proximidade e o meu carinho. Abraço cada um de vocês, e em particular aqueles que estão consumidos pela angústia, pela dor, pelo medo e até pela raiva”, e acrescenta: “Juntamente com vocês choramos pelos mortos, os feridos, os traumatizados, suplicando a Deus Pai que intervenha e coloque o fim à guerra e ao ódio.”

Angelus: quando descobrimos o verdadeiro rosto do Pai, a nossa fé amadurece

Abandonar a imagem do Deus que pensamos conhecer e converter-nos a cada dia ao Deus que Jesus nos mostra no Evangelho, Pai de amor e compaixão.

Este foi o convite do Papa na sua alocução antes de rezar o Angelus, no passado 4 de fevereiro, V Domingo do Tempo Comum, em que a liturgia nos propõe o Evangelho de São Marcos 1, 29-39. E precisamente o “contínuo movimento de Jesus” narrado pelo evangelista, “diz-nos algo muito importante sobre Deus e interpela-nos com algumas perguntas sobre a nossa fé”.

De facto, a passagem bíblica mostra-nos uma contínua movimentação de Jesus, que tem dois sentidos: uma horizontal e outra ascendente, vertical. Inicialmente Ele prega na sinagoga, depois vai à casa de Pedro onde cura a sua sogra da febre, então vai à porta da cidade onde cura doentes e possuídos pelo demónio. Mas na manhã seguinte, retira-se para rezar, onde no silêncio da oração, “entrega tudo e todos ao coração do Pai”. Depois, volta a caminhar pela Galileia, vai às aldeias da redondeza. E precisamente nesses movimentos, revela o verdadeiro rosto do Pai:

Jesus, que vai ao encontro da humanidade ferida, mostra-nos o rosto do Pai. Pode ser que dentro de nós ainda exista a ideia de um Deus distante, frio, indiferente à nossa sorte. O Evangelho, ao invés disso, mostra-nos que Jesus, depois de ter ensinado na sinagoga, sai, para que a Palavra que pregou possa alcançar, tocar e curar as pessoas.”

Devemos olhar para este movimento de Jesus e recordar que o nosso primeiro trabalho espiritual é este: “abandonar o Deus que pensamos conhecer e converter-nos a cada dia ao Deus que Jesus nos apresenta no Evangelho, que é o Pai de amor e o Pai da compaixão. O Pai próximo, compassivo e terno. E quando descobrimos o verdadeiro rosto do Pai, a nossa fé amadurece: não ficaremos mais “cristãos da sacristia”, ou “de sala”, mas sentimo-nos chamados a tornar-nos portadores da esperança e da cura de Deus.”

Irmã Paësie, anjo dos pobres no Haiti: “ele [o Papa] encorajou a minha missão”

No sábado, 3 de fevereiro, a religiosa e “mãe” de 2.500 crianças haitianas recebeu um telefonema de Francisco, que queria saber sobre a situação na ilha e expressar o seu apoio ao trabalho da religiosa em favor dos mais pobres: “Algumas pessoas dizem-nos que, sem a ajuda da Igreja, estariam mortas… Às vezes pergunto-me como as pessoas conseguem sobreviver por vários dias sem comer e privando-se de tudo. Mas o Senhor está presente”.

Normalmente, quando encontra tempo para pegar no telefone – a irmã Paësie, sempre ocupada cuidando do seu “pequeno rebanho” de crianças de rua no Haiti – é porque há um problema a ser resolvido. A 3 de fevereiro, por volta das 13 horas, foi diferente. Na ligação estava o Papa, que queria falar com a religiosa francesa, residente em Porto Príncipe desde 1999 para se dedicar às crianças da maior favela da capital, Cité Soleil, onde a família Kizito cuida de 2.500 menores. Francisco quis telefonar para a freira para encorajá-la na sua missão, conforme explicou a Irmã Paësie numa entrevista à Rádio Vaticano – Vatican News.

Para a religiosa, foi uma grande surpresa: “Quando o meu telefone tocou, eu obviamente não esperava que fosse o Santo Padre. Ele deu-me uma mensagem de incentivo e agradeceu-me pela minha presença junto às crianças. Assegurou-me das suas orações, o que realmente me emocionou. O que também me surpreendeu nesse telefonema foi a voz do Santo Padre: senti uma grande doçura e bondade. É claro que imediatamente partilhei a notícia com a minha comunidade, a minha equipa e alguns dos meninos. Isso trouxe alegria e esperança para muitas outras pessoas, porque a mensagem não era apenas para mim, era realmente um gesto para com as crianças e os mais pobres do Haiti”.

Prémio Zayed: a fraternidade é uma barreira ao ódio e à violência

O Papa Francisco enviou uma mensagem de vídeo, esta segunda-feira, aos vencedores do prémio Zayed para a Fraternidade Humana 2024. O prémio foi concedido no âmbito do Dia Internacional da Fraternidade Humana celebrado no domingo, 4 de fevereiro.

A cerimónia de entrega realizou-se na tarde desta segunda-feira, em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, no mesmo Memorial do Fundador onde a 4 de fevereiro de 2019, junto com o Grão Imam de Al-Azhar, Al-Tayyeb, o Pontífice assinou o Documento sobre a Fraternidade Humana em prol da paz mundial e da convivência comum.

Na sua mensagem de vídeo, o Papa lembrou esse momento histórico e que “ao longo desses anos caminhamos como irmãos na consciência de que, respeitando as nossas diferentes culturas e tradições, devemos construir a fraternidade como barreira ao ódio, à violência e à injustiça.”

O Pontífice ressalta que os homenageados com o “Prémio Zayed para a Fraternidade Humana 2024 “são conhecidos pelo seu compromisso solidário com o progresso da humanidade e a promoção da convivência pacífica”.

Os três vencedores da quinta edição do Prémio Zayed são a religiosa chilena Nelly León, o cirurgião cardíaco Magdi Yacoub do Egito, e as organizações islâmicas Nahdlatul Ulama e Muhammadiyah da Indonésia. “Espero que o seu exemplo seja um estímulo para que outros tomem iniciativas que nasçam da colaboração fecunda entre pessoas de diferentes religiões a serviço de toda a humanidade e no respeito da dignidade de cada pessoa, promovendo os valores propostos pelo Documento sobre a Fraternidade Humana. Gostaria de lhes dizer, como um desejo: continuem a semear a esperança”, disse ele.

O Prémio Zayed, agora no seu quinto ano, foi criado para destacar aqueles que contribuem para a promoção de um mundo mais pacífico, harmonioso e compassivo, e inspira-se nos valores contidos no Documento sobre a Fraternidade Humana.

Francisco quis encontrar-se, dez dias antes, numa audiência privada, com os premiados, que o visitaram pessoalmente no Vaticano e lhe puderam contar sobre o trabalho que realizaram. Também naquela ocasião, o Pontífice agradeceu-lhes pelo serviço prestado, encorajando-os a continuar a perseverar no seu compromisso com os mais necessitados.

O Papa escreveu ainda uma mensagem aos participantes do IV Congresso Internacional de “PLURIEL, Plataforma Universitária de Pesquisa sobre o Islão”, envolvida numa conferência em Abu Dhabi sobre os impactos do documento sobre a fraternidade humana. O Pontífice destaca na missiva os três principais obstáculos ao diálogo: o desconhecimento do outro, a ausência de escuta e a falta de flexibilidade intelectual.

“Façamos com que o nosso sonho de fraternidade na paz não se limite às palavras!”, são os votos do Pontífice.

Audiência Geral: atenção à tristeza, é como um verme que corrói o coração

Há uma tristeza “que nos leva à salvação”, mas há também aquela que pode se transformar “em um estado de espírito maligno”. Francisco ao refletir na Audiência Geral desta quarta-feira, sobre o vício da tristeza, advertiu: “é preciso combater esse demónio perverso e isso pode ser feito pensando em Jesus, que nos traz sempre a alegria da ressurreição”.

“Entendida como um abatimento da alma, uma aflição constante que impede o homem de sentir alegria na sua própria existência.” Com estas palavras, o Papa introduziu o tema da sua reflexão dedicada à tristeza. Esta é a sétima catequese do itinerário sobre os vícios e as virtudes.

O Santo Padre recordou logo no início que, em relação à tristeza, os Padres do deserto desenvolveram uma distinção importante: “existe uma tristeza que é própria da vida cristã e que com a graça de Deus se transforma em alegria: esta, obviamente, não deve ser rejeitada e faz parte do caminho de conversão. Mas há também um segundo tipo de tristeza que se infiltra na alma e a prostra num estado de desânimo; este segundo deve ser combatido.

Ao sublinhar que existe “uma tristeza amiga, que nos leva à salvação” o Santo Padre trouxe como exemplo o filho pródigo da parábola, quando chega ao fundo da sua degeneração, sente uma grande amargura, e isso o leva a voltar a si mesmo e a decidir voltar para a casa do pai (cf. Lc 15, 11-20).

É uma graça sentir dor pelos nossos pecados, lembrar o estado de graça do qual caímos, chorar porque perdemos a pureza na qual Deus nos sonhou.”

O Papa enfatizou que “todos nós passamos por provações que nos geram tristeza, pois a vida faz-nos conceber sonhos que depois desmoronam”. Nesta situação, alguns, depois de um período de turbulência, confiam na esperança, mas outros se afundam na melancolia, permitindo que ela gangrene os seus corações, e assim ficam felizes por um fato que não aconteceu, é como comer uma bala amarga, sem açúcar: “a tristeza é um prazer do não prazer”, disse o Pontífice.

“A tristeza pode transformar-se de uma emoção natural num estado de humor maligno. É um demónio sorrateiro, o da tristeza. Os Padres do deserto o descreviam como um verme do coração, que corrói e esvazia aquele que o hospedou.”

Por fim, o Papa convidou os fiéis a estarem atentos ao vício da tristeza e a recordarem sempre que Jesus traz a alegria da Ressurreição. E de modo concreto, com algumas perguntas, abordou o que se pode fazer quanto vem o sentimento de tristeza:

Pare e reflita: essa tristeza é boa? Essa tristeza não é boa? E reaja de acordo com a natureza da tristeza. Não se esqueça de que a tristeza pode ser uma coisa muito má que nos leva ao pessimismo, que nos leva a um egoísmo que dificilmente pode ser curado”, concluiu Francisco.

“Não nos esqueçamos das guerras, não nos esqueçamos da martirizada Ucrânia, da Palestina, de Israel, dos Rohingya, das muitas, muitas guerras que estão por toda parte. Rezemos pela paz. A guerra é sempre uma derrota, sempre. Rezemos pela paz. Precisamos de paz” afirmou o Papa no final da audiência.

Na saudação aos fiéis de língua espanhola, Francisco recordou que no próximo domingo, 11 de fevereiro, celebra-se o Dia Mundial do Doente: “Peçamos a Maria, Saúde dos enfermos, por todos os que sofrem, para que saibam depositar a sua confiança em Deus, experimentando a alegria de saber que são amados por Ele. Que Jesus os abençoe e a Virgem Santa os proteja”.

JM (com recursos jornalísticos do portal noticioso Vatican News)

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07 de Fevereiro de 2024