comprehensive-camels

A Palavra do Papa: a linguagem da proximidade, o rosto luminoso, a coragem dos mártires e o amor gratuito

20240229-a-palavra-do-papa - Cópia

“Eis um bom propósito para a Quaresma: cultivar olhares atentos, tornar-se ‘exploradores de luz’, exploradores da luz de Jesus na oração e nas pessoas” disse o Papa na recitação do Angelus, no passado domingo.

Diáconos: vivam para servir, falem a “linguagem da proximidade”

“A vida pastoral não é um manual, mas uma oferta diária; não é um trabalho preparado numa escrivaninha, mas uma aventura eucarística.” O Papa Francisco dirigiu estas palavras aos diáconos ordenados da Diocese de Roma no discurso que havia preparado por ocasião da audiência de segunda-feira, cancelada devido aos sintomas de leve gripe do Papa.

O diaconato”, escreve o Pontífice no texto entregue, “é a base sobre a qual se funda o sacerdócio”, cujo fundamento interior é o espírito de serviço, “a consciência diaconal”. Vocês serão sacerdotes para servir, em conformidade com Jesus que não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida”.

“Servir”, de acordo com o Papa, “é um verbo que recusa toda abstração: significa estar disponível, renunciar a viver de acordo com a própria agenda, estar pronto para as surpresas de Deus que se manifestam através das pessoas, do inesperado, das mudanças de planos, das situações que não se encaixam nos nossos esquemas”. É uma atitude constante que expressa “a linguagem da proximidade”, “que fala mais com atos do que com palavras”.

Francisco: a educação é um direito, ninguém deve ser excluído

A educação é “um trabalho coletivo”, que sempre exige “colaboração e trabalho em rede”. Com este convite a não estar “nunca sozinho” e a evitar a “autorreferencialidade”, o Papa Francisco dirigiu uma mensagem aos participantes do congresso sobre o tema: “A Igreja na educação: presença e compromisso”, promovido pela Conferência Episcopal Espanhola.

Na sua mensagem, o Pontífice enfatiza que a educação “não é possível sem apostar na liberdade, abrindo caminho para a amizade social e a cultura do encontro”. De facto, a marca registada da educação católica em todas as áreas “é a verdadeira humanização, que nasce da fé e gera cultura”, porque Cristo, enfatiza o Papa, “sempre habita nas nossas casas, fala a nossa língua, acompanha as nossas famílias e o nosso povo”.

A educação, continua a mensagem, é, antes de tudo, “um ato de esperança em quem temos diante de nós, no horizonte da sua vida, das suas possibilidades de mudar e contribuir para a renovação da sociedade”. Nesse sentido, todos “têm o direito à educação” e “ninguém deve ser excluído”. Por isso, a preocupação com as muitas crianças e jovens que “não têm acesso à educação em diferentes partes do mundo” e “que sofrem opressão, e até mesmo guerra e violência”.

Angelus: Abramo-nos à luz de Jesus

Mesmo a recuperar de uma leve gripe, o Papa compareceu ao seu compromisso dominical: a oração mariana do Angelus com os fiéis reunidos na Praça São Pedro. Na sua reflexão, Francisco meditou sobre o Evangelho deste segundo domingo da Quaresma, que narra o episódio da Transfiguração de Jesus (cf. Mc 9,2-10).

O Santo Padre recordou que “depois de anunciar a sua Paixão aos discípulos, Jesus leva consigo Pedro, Tiago e João, sobe um alto monte e ali se manifesta fisicamente com toda a sua luz, revelando a eles o sentido do que tinham vivido juntos até aquele momento”.

A pregação do Reino, o perdão dos pecados, as curas e os sinais realizados eram, de facto, centelhas de uma luz ainda maior: “a luz de Jesus, a luz que é Jesus”, enfatizou o Papa.

Segundo Francisco, é isso que os cristãos são chamados a fazer no caminho da vida: “ter sempre diante dos olhos o rosto luminoso de Cristo”. 

Eis um bom propósito para a Quaresma: cultivar olhares atentos, tornar-se ‘exploradores de luz’, exploradores da luz de Jesus na oração e nas pessoas.”

Vídeo do Papa: “Os mártires são o sinal de que estamos no caminho certo”

Nas intenções de oração para o mês de março, o Papa Francisco convida a rezar pelos novos mártires, testemunhas de Cristo.

Na mensagem de vídeo, divulgada nesta terça-feira, o Pontífice conta “uma história que é um reflexo da Igreja de hoje. É a história de um testemunho de fé pouco conhecido”. Francisco recorda o testemunho e a dor de um homem muçulmano que ele conheceu ao visitar um campo de refugiados na ilha grega de Lesbos. A esposa dele era cristã. O homem disse ao Papa: “Os terroristas chegaram ao nosso país, olharam-nos e perguntaram qual era a nossa religião. Viram a minha mulher com o crucifixo e disseram-lhe para o atirar ao chão. Ela não o fez e foi degolada na minha frente”. “Histórico”, diz o Papa no vídeo.

“Sei que ele não tinha rancor. Centrava-se no exemplo de amor da sua esposa, um amor a Cristo que a levou a aceitar e ser leal até à morte. Irmãos, irmãs, sempre haverá mártires entre nós. É o sinal de que estamos no caminho certo.”

Uma pessoa entendida dizia-me que há mais mártires hoje do que no início do cristianismo”, acrescenta Francisco, sublinhando como é atual o tema dos cristãos perseguidos e que dão a vida pela sua fé.

“A coragem dos mártires, o testemunho dos mártires, é uma bênção para todos. Rezemos para que aqueles que em várias partes do mundo arriscam a vida pelo Evangelho contagiem a Igreja com a sua coragem e o seu impulso missionário. E abertos à graça do martírio”.

Audiência Geral: inveja e vanglória, vícios de quem sonha ser o centro do mundo

Na Audiência Geral desta quarta-feira (28), Francisco deu continuidade ao ciclo de catequeses sobre os vícios e as virtudes. O texto da reflexão dedicado à inveja e à vanglória foi proferido por monsenhor Ciampanelli, colaborador da Secretaria de Estado. Para combater esses vícios, os remédios são o amor gratuito e o reconhecimento de que Deus está presente na nossa própria fraqueza.

“Hoje examinaremos dois pecados capitais que encontramos nas grandes listas que a tradição espiritual nos deixou: a inveja e a vanglória”, introduz monsenhor Ciampanelli, dedicando a primeira parte da reflexão à inveja:

Quando lemos a Sagrada Escritura, percebemos que este vício nos é apresentado como um dos mais antigos: o ódio de Caim por Abel é desencadeado quando ele percebe que os sacrifícios do seu irmão agradam a Deus. O rosto do invejoso é sempre triste: o seu olhar está abaixado, parece examinar continuamente o chão, mas na realidade não vê nada, porque a mente está envolvida por pensamentos cheios de malícia. A inveja, se não for controlada, leva ao ódio pelos outros. Abel será morto pelas mãos de Caim, que não podia suportar a felicidade do irmão.”

A inveja faz-nos criar uma falsa ideia de Deus, não se aceita que Deus tenha uma “matemática” própria, diferente da nossa: “Gostaríamos de impor a Deus a nossa lógica egoísta, mas a lógica de Deus é o amor. Os bens que Ele nos dá são feitos para serem partilhados. É por isso que São Paulo exorta os cristãos: ‘Com amizade fraterna, sede afetuosos uns com os outros. Rivalizai uns com os outros na estima recíproca’ (Rm 12,10). Eis aqui o remédio para a inveja!”

A segunda parte da catequese de Francisco volta-se para a vanglória, e monsenhor Ciampanelli, na leitura do texto, recorda que este vício anda de mãos dadas com o demónio da inveja, sendo típico de quem aspira ser o centro do mundo, livre para explorar tudo e todos, objeto de todo louvor e todo amor:

A pessoa vangloriosa não tem empatia e não percebe que existem outras pessoas no mundo além dela. As suas relações são sempre instrumentais, caracterizadas pela opressão dos outros. A sua pessoa, as suas façanhas, os seus sucessos devem ser mostrados a todos: é uma perpétua mendiga da atenção. E se, às vezes, as suas qualidades não são reconhecidas, fica extremamente irritada. Os outros são injustos, não entendem, não estão à altura.”

“Para curar os vangloriosos, os mestres espirituais não sugerem muitos remédios”, recorda o texto do Papa, “porque, em última análise, o mal da vaidade tem em si o seu remédio: os elogios que o vanglorioso esperava colher no mundo logo se voltarão contra ele. E quantas pessoas, iludidas por uma falsa imagem de si mesmas, caíram em pecados dos quais logo se envergonhariam!”

Minas Antipessoais, Papa dispositivos traiçoeiros que nos lembram a crueldade das guerras

No final da Audiência Geral, o Papa Francisco recordou que esta sexta-feira é celebrado o 25° aniversário da “entrada em vigor da Convenção sobre a Proibição de Minas Antipessoais que continuam a atingir civis inocentes, principalmente crianças, mesmo muitos anos após o fim das hostilidades”.

A Convenção sobre a Proibição de Minas Antipessoais, conhecida também como a Convenção de Ottawa, foi concluída em 1997 e que entrou em vigor em 1999, ratificada por 164 estados, incluindo 34 dos 50 países que eram produtores antes de 1997. Um relatório apresentado no ano passado, em Genebra, na Suíça, pela “Campanha Internacional para Banir as Minas Antipessoais” (ICBL), falava de números crescentes também devido ao aumento de vítimas na Ucrânia, 608 (58 em 2022), atrás, porém, da Síria (834) e depois Iémen e Myanmar.

“Manifesto minha proximidade às numerosas vítimas desses dispositivos traiçoeiros que nos lembram a dramática crueldade das guerras e o preço que as populações civis são obrigadas a pagar. Nesse sentido, agradeço a todos aqueles que oferecem a sua ajuda, prestando assistência às vítimas e limpando as áreas contaminadas: o seu trabalho é uma resposta concreta ao chamamento universal para sermos pacificadores, cuidando dos nossos irmãos e irmãs.”

A seguir, o Papa convidou a não esquecer “os povos que sofrem por causa da guerra: Ucrânia, Palestina, Israel e muitos outros”.

“Rezemos pelas vítimas dos recentes ataques aos locais de culto em Burkina Faso; bem como pela população do Haiti, onde continuam os crimes e os sequestros perpetrados por gangues armadas.”

Papa a juízes na Argentina: a palavra de Jesus é caminho seguro para garantir a justiça social

O Papa Francisco compartilhou a alegria vivida nesta quarta-feira pelos membros do COPAJU, o Comité Pan-Americano de Juízas e Juízes para os Direitos Sociais e Doutrina Franciscana, que inauguraram a nova sede em Buenos Aires, na Argentina. O Pontífice enviou uma mensagem em vídeo para a ocasião.

Na mensagem, Francisco enfatizou “como a justiça é importante” nos dias de hoje, assim como a oportunidade de “poder refletir e se formar diante dos novos desafios” com a missão “fundamental e crucial” de advogados, juízes e promotores públicos. O poder judiciário, ainda recordou o Papa, deve reparar “violações de direitos e preservar o equilíbrio institucional e social”:

Vivemos em épocas de intensa injustiça: poucos ricos cada vez mais poderosos e milhões de pobres rejeitados e descartados. Não há futuro, não há desenvolvimento, não há justiça e nem democracia num mundo onde milhões de crianças comem diariamente apenas os resíduos daqueles que consomem.”

O Papa Francisco finalizou a mensagem em vídeo, saudando os membros do COPAJU e os representantes do Instituto Frei Bartolomeu das Casas, e pediu “firmeza e determinação diante dos modelos desumanos e violentos”.

JM (com recursos jornalísticos do portal noticioso Vatican News)

Partilhe nas redes sociais!
29 de Fevereiro de 2024