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IV Domingo do Advento: Comentário à Liturgia – “Filho de David, tem piedade de nós!”

Igreja em Rede - formato diocese

Filho de David, tem piedade de nós!

O anúncio do Anjo a Maria, lido neste Domingo IV do Advento, é um texto absolutamente central para a compreensão da identidade de Jesus, o Messias que está para vir. Sublinhemos hoje uma das afirmações angélicas: “O Senhor Deus Lhe dará o trono de seu pai David” (Lc 1,32). A realeza aqui aludida é um dos temas centrais da liturgia deste dia, que propõe como primeira leitura um dos textos mais importantes do Antigo Testamento no que diz respeito à expectativa messiânica: o oráculo de Deus ao rei David por meio do profeta Natã (2 Sam 7).

O rei quer construir uma casa para Deus (o Templo, que será o seu filho Salomão a edificar); a isto Deus responde que será Ele mesmo a construir uma Casa (isto é, uma descendência) a David. É isto que é cantado e celebrado no Salmo 88, rezado de forma responsorial neste Domingo. Três pontos são centrais nesta aliança davídica: em primeiro lugar, David torna-se rei, não por conquista, mas porque o próprio Deus o escolhe de entre o povo; em segundo lugar, o Senhor promete estar com David, para ajudá-lo a combater os seus inimigos e estabelecer o seu reino contra toda a oposição; finalmente, também aos descendentes de David é prometida a assistência divina.

Esta dimensão de eternidade parece, no entanto, ser uma fraude. A dada altura, a monarquia desaparece, arrasada pelas potências do tempo. Todavia, é quando toda a esperança num filho (o mesmo é dizer, descendente) de David “segundo a carne” desaparece, que se vai formando em Israel, pouco a pouco, a esperança num novo filho de David, desta vez “segundo o Espírito”. Ungido não só como rei, mas também profeta e sacerdote. Ungido, Messias em hebraico, que em grego se diz Cristo!

Neste sentido, reconhecendo no Menino que está para nascer o Messias esperado, podemos exclamar com o salmista, “cantarei eternamente as misericórdias do Senhor”. Ou seja, cantamos a Sua bondade e fidelidade, porque afinal, como fora profetizado, ainda que os sucessores de David tenham falhado no plano político e religioso, ainda assim o Senhor não falha, não esquece a sua aliança, não abandona o seu povo. A promessa atinge a sua plenitude em Jesus, o que demonstra que a infidelidade humana não consegue anular a fidelidade de Deus!

A palavra de Deus fica como que a pairar na História até se revelar como Palavra incarnada. Por tudo isto, retraduzindo o ensinamento do Apóstolo São Paulo, “a Palavra de Deus não pode ser confinada”! (2 Tm 2,9)

Padre Daniel Nascimento

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19 de Dezembro de 2020