Na Noite de Natal, o Cardeal D. Américo Aguiar presidiu à Eucaristia na Sé de Setúbal. “Acreditamos que a violência, a dor e a morte podem se transformar em amor. Que é isso que aqui nos reúne, neste amor que para nós é Cristo”, afirmou no início da celebração.
O Bispo de Setúbal, na homilia, lembrou os refugiados e os migrantes que não são acolhidos, recorrendo ao exemplo de Maria e José que também em Belém “não encontraram lugar”:
Maria e José tiveram que se deslocar a Belém para se irem recensear conforme decreto do Imperador. Chegou a hora do parto e não havia lugar para eles. Dois mil e vinte e três anos depois, continuamos a ter homens, mulheres, famílias, que se deslocam das suas terras pelas mais diversas razões e não encontram lugar, não são amadas e queridas nos locais onde se vão dirigir. Isto deve fazer-nos pensar.”
Na tradicional “Missa do Galo”, o prelado afirmou que são a todos os que não têm lugar na nossa sociedade e que são desprezados pela mesma que o Senhor acolhe e que lhes pede que sejam os seus principais anunciadores. Foi o caso dos pastores, a quem o anjo anunciou o nascimento de Jesus. “Aqueles a que ninguém esperaria que o anúncio fosse feito. Eles, os desprezados da sociedade, são eles que recebem o anúncio da luz, da alegria, do nascimento do filho de Deus.”
E frisou que o anúncio de Jesus é para todos, sem olhar a “complexos” e “estereótipos”. “Ainda hoje, continuamos a ter complexos, a fazer juízos sobre aqueles que ousam anunciar o nascimento de Cristo, que não correspondem aos nossos estereótipos. E por isso, quando são os pastores que dão testemunho do nascimento de Cristo, demos graças a Deus por isso. Todos, todos, todos. O anuncio do Evangelho é para todos: não é para os santos, para os justos, para os perfeitos, para os brancos, para os amarelos, para os gordos e para os magros, é para todos.”
Ao longo dos tempos vamos criando obstáculos, dificuldades porque achamos que este tesouro de Cristo é tão importante e tão valioso que é só para mim e só para os meus. É para todos.”
D. Américo Aguiar criticou o que o Papa Francisco apelida de “globalização da indiferença” em relação à miséria do outro, à guerra, à falta de esperança, lembrando a “luz que quer iluminar os nossos corações, as nossas vidas, os nossos problemas e as nossas dificuldades”.
Véspera de Natal com comunidade ucraniana, reclusos e o Presidente da República
O prelado esteve na véspera de Natal com a comunidade ucraniana de Setúbal, preocupada com os seus irmãos que continuam a enfrentar um conflito armado, e rezou também com “os irmãos da Palestina e de Israel”, pedindo “a paz para todos”. Esteve também com os reclusos do estabelecimento prisional de Setúbal.
“Hoje tive com a comunidade de reclusos da nossa terra. Tenham esperança, não podemos matar a esperança a ninguém, muito menos aos presos. Nós podemos ser agentes da morte da esperança dos outros.”
Por fim deixou um apelo: “O que podemos fazer? Podemos fazer tudo se permitirmos que o outro encontre lugar aqui, no nosso coração. Se ele encontrar esse lugar, tudo pode ser diferente. Se Ele não encontrar lugar no nosso coração, não há pastor que nos possa converter.”
“Nesta noite tão luminosa, quero agradecer-vos a disponibilidade de saírem do conforto das vossas casas para estarem aqui. E dizer-vos como é bom estarmos aqui, uns com os outros. Dando graças a Deus por isso, pedindo ao Menino que possam abençoar, fortalecê-los, encorajar-vos. Especialmente ao que estão com falta de esperança, que o Menino possa reforçar a esperança. Que o menino nasça no coração de todos e cada um e façamos o que está ao nosso alcance para que o outro venha ao nosso encontro” concluiu.
A Eucaristia, que foi transmitida na Rádio Renascença, contou com a participação do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que antes jantou com D. Américo Aguiar.
JM