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D. José Ornelas em Setúbal (2): o Bispo dos jovens

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Reflexão de Ana Lúcia Agostinho, Coordenadora do Departamento da Juventude da Diocese de Setúbal

Recordo-me de ser uma entre muitos jovens, num autocarro que regressava de Taizé a Lisboa, quando uma voz nos trouxe a notícia: “a Diocese de Setúbal já tem novo bispo, é um bispo missionário.” Foi assim que, pela primeira vez, ouvi falar de D. José Ornelas, em agosto de 2015. Foi evidente a alegria que brotou nos jovens (mesmo nos de outras dioceses) por saber que iria nascer na Igreja um bispo com o coração voltado para as missões.

Acompanhei desde casa a sua ordenação episcopal e a imagem que guardo mais viva na memória é de quando, já no final da belíssima celebração, saudava com uma ternura especial os jovens ali presentes. Imagem que anunciava já uma característica saliente do seu pontificado: a proximidade para com todos, sobretudo para com os mais jovens.

No decorrer da fase de auscultação diocesana realizada no âmbito do Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional”, acompanhou de perto os trabalhos desenvolvidos pela equipa dirigida pelo Pe. João Nabais Dias, na altura, diretor do Secretariado Diocesano de Pastoral Juvenil. Não se revelou indiferente à voz dos jovens que se “fizeram ouvir” indicando a necessidade de uma Igreja mais próxima e acolhedora, com uma linguagem mais clara e descomplicada, onde pudessem ser colaboradores ativos (no pensar e no construir), bem como onde encontrassem um acompanhamento espiritual e vocacional que fosse ao encontro do que procuram e necessitam.

Esse caminho sinodal, iniciado de um modo especial em torno da juventude, tornou-se a forma como D. José procurou conduzir a Igreja de Setúbal: como um pastor que não vai à frente a apontar o caminho, mas lado a lado com o seu povo, disponível para a escuta e a partilha, aberto e atento à ação do Espírito Santo que fala pela voz de todos os batizados e se revela nos sinais dos tempos.

Fruto da reflexão sinodal, da voz dos jovens e da insistência do responsável diocesano da pastoral juvenil, D. José acolheu com ousadia e coragem a necessidade de reestruturar e revitalizar a pastoral juvenil da Diocese de Setúbal, confiando aos jovens leigos papéis de liderança. Assim, em 2018, instituiu o novo Departamento da Juventude, constituído por uma equipa de jovens dedicados, coordenado por um jovem leigo, com a assistência espiritual dos sacerdotes. “Uma boa pastoral da juventude pode mudar a Igreja”, repetiu em diversas ocasiões, inspirando-nos a abraçar com zelo apostólico esta missão.

Nas suas visitas pastorais (as quais sabemos que, com pesar, não concluiu), dirigiu o olhar de um modo especial para os jovens e para as suas realidades intra e extra-eclesiais. Pelas várias paróquias, escolas e associações onde se encontrava com os jovens, apelou sempre à sua capacidade de sonhar com uma Igreja, uma sociedade e um mundo melhores e de se empenharem com a criatividade que os caracteriza na sua construção, sendo os “F1”, a ajuda que pode fazer a diferença nos espaços e meios onde vivem. Desafiou os jovens a “Partilharem-se”, sendo igreja missionária e em saída que vai ao encontro de quem mais precisa, à imagem de Maria. Mas também a partilhar e empenhar as suas vidas na construção de estruturas pastorais, a nível paroquial, vicarial e diocesano, onde unidos possam ser os agentes e a voz que constrói não a Igreja do futuro, mas a do presente, que se edifica dia-a-dia e com a colaboração de todos, mais velhos e mais jovens.

Com o exemplo da confiança que neles depositou, creio que o D. José ensinou os jovens a não temer arriscar percursos novos, quando é o Espírito que os inspira. Na certeza de que não há caminhos perfeitos, pois o maior mal é não ousar caminhar, ficar parado ou acomodado no quarto à espera da mudança. Nem tão pouco caminhos que não ficam concluídos, pois isso significaria que não teríamos mais por onde caminhar.

Em comunhão com toda a Igreja Diocesana, e em união com o próximo bispo que o Senhor enviar para a nossa Diocese, procuremos continuar esta obra que com o D. José temos vindo a construir. E, de um modo especial, na preparação, no acolhimento e na participação na próxima Jornada Mundial da Juventude, que se realizará em Lisboa, em agosto de 2023.

D. José deixa uma marca significativa nos jovens da nossa diocese, não só pelo que com eles construiu, mas sobretudo pelo que com eles partilhou. O bispo que conhece os jovens pelo nome, que na sua humildade e alegria os acolhe, que com eles ri e também se emociona, que ao seu lado reza e dança, que se faz presente onde estão, mesmo que isso envolva aprender a utilizar novas tecnologias. Recorrendo a uma expressão que não é minha, mas que ouvi de outro jovem, provavelmente será sempre recordado com ternura e amizade como “o bispo dos jovens”.

Continuemos a rezar pelos novos caminhos em que o D. José se continuará a “partilhar” junto dos nossos irmãos a quem o Senhor confia, agora, na Diocese de Leiria-Fátima, esperando que lá tão perto de Maria, nossa Mãe, confie às suas mãos os jovens de toda a Igreja.

Ana Lúcia Agostinho, Departamento da Juventude de Setúbal

D. José Ornelas em Setúbal (1): a construção da Igreja com os leigos

D. José Ornelas em Setúbal (3): um setor da pastoral social a necessitar de uma atenção especial

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08 de Março de 2022